Ela não possuía carreira política ou partidária até 2018, e foi eleita vice-governadora de Santa Catarina a partir da onda bolsonarista que consagrou líderes de movimentos anti-petistas e contra a corrupção. Daniela Reinehr, expoente do movimento Nas Ruas — que lutava, entre outras causas, pelo impeachment de Dilma Rousseff —, assumiu interinamente o governo daquele Estado nesta terça-feira (27), após o afastamento do governador eleito Carlos Moisés (PSL). Ela é a primeira mulher a assumir o governo de Santa Catarina.
Daniela permanecerá na chefia do Executivo enquanto Moisés estiver afastado por conta do processo de impeachment que pode durar até 180 dias. A vice, aliás, também era alvo de denúncia, mas o tribunal votou por rejeitar a parte dela no caso que tem como precedente jurídico o aumento salarial dos procuradores do Estado. Moisés foi afastado no último sábado, por decisão do Tribunal Especial de Julgamento que analisa pedido de impeachment contra ele.
Para entender a trajetória e a aproximação de Daniela Reinehr com a ala bolsonarista é preciso voltar no tempo. O grupo Nas Ruas, da qual Reinehr faz parte, formou-se em julho de 2011, com a bandeira da ética e de combate a irregularidades. O movimento tem entre as fundadoras a deputada federal Carla Zambelli (SP), uma das aliadas mais próximas do presidente Jair Bolsonaro e amiga pessoal de Daniela.
Reinehr é descrita por Zambelli como uma pessoa séria e responsável, e houve estranhamento por parte de Zambelli e aliados quando Moisés decidiu "afastá-la" do núcleo de decisões no governo de Santa Catarina. Aliados dizem que Moisés a "deixou de lado" após eleito, em gesto interpretado como ingratidão. Hoje, o governador afastado não tem apoio nem sequer entre integrantes do seu partido, contudo a vice segue com prestígio em especial na ala próxima ao Planalto.
Foi Reinehr, por exemplo, quem articulou em Santa Catarina a ideia de criação do "partido de Bolsonaro", batizado de "Aliança pelo Brasil". A vice foi uma das que se desfiliou do PSL (legenda pela qual o presidente fora eleito), tal qual o fez Jair Bolsonaro, após troca de farpas públicas dele com Luciano Bivar.
Daniela é natural de Maravilha, cidade que fica no oeste de Santa Catarina. A governadora interina é advogada há 19 anos, com experiência em Direito Empresarial, Civil, Administrativo e Comércio Exterior. Ela também é produtora rural e ex-policial militar.
Eleição
A eleição de Moisés e Reinehr, em 2018, surpreendeu por alçar dois personagens que em nada tinham a ver com oligarquias políticas tradicionais daquele Estado, onde as famílias Amim e Bornhausen tem larga trajetória na administração pública. Como observou o jornal O Globo, a chapa do PSL foi eleita com a maior votação da história de Santa Catarina surfando, claro, na onda bolsonarista. Nem Moisés nem Reinehr haviam ocupado cargos políticos em suas trajetórias, daí também a dificuldade em articular politicamente uma sobrevivência.
Com prestígio entre bolsonaristas, a expectativa é que a governadora interina viaje ainda nesta semana para Brasília, para um encontro com o presidente Jair Bolsonaro.
A partir daí, a intenção é criar estratégias e uma articulação política para que ela permaneça no cargo fortalecendo a base de apoio ao presidente entre os catarinenses. Entre os que também já demonstraram apoio público a Reinehr está o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro, numa sinalização de que a família a apoiará na consolidação do governo, estadual assim como na sucessão de Witzel no Rio de Janeiro.