Enquanto brasileiros se enfileiram nas agências da Caixa Econômica em busca de um mínimo de dignidade, enquanto pais se desesperam porque a única refeição que o filho fazia (na escola) está suspensa por causa da pandemia, enquanto o governo tenta nos convencer de que o país precisa de reformas que vão atingir funcionários públicos de cima a baixo (menos militares, juízes, bem, deixa pra lá), o Congresso Nacional aprovou a injustificável medida que perdoa R$ 1 bilhão de dívidas de igrejas. Não, você não leu errado. UM BILHÃO de reais.
Que vergonha, senhores deputados! Que vergonha.
Antes que a patrulha de falsos moralistas insurja, cabe destacar: não se trata de ser contra as igrejas. Os espaços usados por milhões de brasileiros para professar a fé não contam com meu desprezo. Pelo contrário. São muitos os que encontram no templo um alento para angústias, uma esperança por dias melhores ou mesmo a força para vencer uma dependência química. Ainda que maus pastores e pastoras (veja o caso Flordelis) nos façam duvidar dos discursos em defesa da família brasileira, demonizar toda a comunidade evangélica é, na minha visão, generalista e injusto.
Voltemos ao perdão.
A misericórdia dos nossos congressistas, como dito acima, inclui abrir mão de cerca de R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Na prática, como informou GZH, muitas igrejas já são alvos de autuações milionárias por driblarem a legislação e distribuírem lucros e outras remunerações a seus principais dirigentes sem efetuar o devido recolhimento de tributos - esses que eu e você somos obrigados a pagar.
Embora contem com essa "imunidade", o benefício não afasta a cobrança de outras contribuições - como a CSLL ou a contribuição previdenciária. E esses seriam exatamente os tributos alvos da anistia aprovada pelo Congresso Nacional.
O tema foi incluído silenciosamente em um projeto que tratava sobre precatórios, por obra do deputado David Soares - filho do missionário R. R. Soares. Agora, o perdão pode beneficiar - veja só! - a Igreja Internacional da Graça de Deus, fundada pelo seu pai. Cabe lembrar ainda, nesse contexto, que Jair Bolsonaro tem na bancada evangélica um importante pilar de sustentação política de seu governo.
Mas nem tudo está perdido, senhoras e senhores. Como de praxe, o texto agora aguarda sanção ou veto do presidente da República. Ele tem até sexta-feira para tomar uma decisão, mantendo ou não a benesse aos templos (com o seu, o meu, o nosso dinheiro). Oremos.