Não é exclusividade de Bolsonaro o gesto que acena a apoiadores alinhados a seus valores, enquanto negocia por de baixo dos panos com aqueles agentes políticos que prometeu repreender. Nos últimos dias, conforme já destacado pela coluna, o presidente abraçou Dias Toffoli, foi ao encontro de Gilmar Mendes e enredou-se de vez com o centrão, grupo que reúne parlamentares com práticas pouco republicanas no Congresso. A novidade é que os panos aqui foram postos de lado, e o presidente não se furtou de sorrir ao cumprimentar Toffoli ou posar à mesa, com pães frescos e ovos mexidos, junto ao presidente da Câmara.
- Tomei café com Maia. E daí? Estou errado? - rebateu.
Para acalmar a base de fãs, acenou prometendo um ministro terrivelmente evangélico para compor o Supremo Tribunal Federal. A nova vaga que se apresenta no horizonte virá a partir da aposentadoria de Marco Aurélio Mello, em 2021. O movimento busca responder a ataques vindos de nomes importantes para a sustentação de Bolsonaro entre os fiéis, como o pastor Silas Malafaia que chamou a indicação de Kassio Nunes como "absurdo vergonhoso" e "uma decepção geral".
- A segunda vaga, em julho do ano que vem, com toda certeza, mais que um terrivelmente evangélico, se Deus quiser, nós teremos lá dentro um pastor", prometeu Bolsonaro sob aplausos, gritos de mito, aleluia e amém.
De novo, não é exclusividade de Bolsonaro acenar aos seus utilizando a Suprema Corte, responsável por guardar o cumprimento da Constituição. Temer indicou Alexandre de Moraes, hoje ministro do STF, que fora seu ministro da Justiça e filiado ao PSDB. Assim também o fizeram Lula, com a nomeação de Dias Toffoli acenando ao PT, e FHC - que ainda que tenha subitamente se "esquecido" durante o Roda Viva (o Gilmar fui eu?) -, foi quem indicou Gilmar Mendes para a corte. O elemento novo é o alinhamento religioso, em especial porque Bolsonaro sabe que precisa limpar sua barra com quem o catapultou ao Poder.
Enquanto isso, o loteamento de cargos segue a todo vapor, a ponto de deputados patrocinarem um armistício entre Maia e Paulo Guedes, a fim de permitir o andamento das agendas de reformas e consolidar formas de financiamento do programa Renda Cidadã.
Bolsonaro, de novo, repete Lula e Temer ao entregar anéis e dedos às velhas raposas políticas acostumadas ao toma lá dá cá de Brasília. Na história recente, Dilma relutou em fazê-lo e o final, bem, você já sabe qual foi.
Mas e quanto à imagem do presidente? Nada disso cola de forma negativa na figura do capitão Bolsonaro? A se julgar pela concessão do auxílio emergencial, a tendência é que o Renda Cidadã atenue desgastes, já que a população mais vulnerável tem se mostrado absolutamente simpática - e quem não seria? - às medidas sociais. Bolsonaro, que nunca foi apolítico ou contra "tudo isso que está aí", sabe bem disso. E malandramente, está sabendo capitalizar.