Entrevistamos o Luciano Huck no Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (15). Uma entrevista difícil de conseguir, considerada a agenda atribulada do apresentador e empresário, talvez um dos rostos mais conhecidos da televisão brasileira. Na TV Globo, comanda o bem-sucedido Caldeirão do Huck que completou 20 anos no ar. Para além dos quadros divertidos que fazem sucesso com o público, o apresentador também ganhou o Brasil ao viajar por inúmeras cidades brasileiras, contando histórias de vida e promovendo transformações sociais, principalmente em redutos de vulnerabilidade.
Foi este último cenário que o projetou como um dos possíveis candidato na eleição presidencial de 2018 (que elegeu Jair Bolsonaro). Os rumores surgiram com força e o próprio se viu pressionado por uma série de partidos que gostariam de oferecer-lhe espaço para uma carreira política. Luciano, conforme contou na entrevista à Rádio Gaúcha, é um dos articuladores do movimento Renova Brasil, que busca investir na formação de novos líderes que possam atuar no sentido desta transformação. A jovem deputada Tabata Amaral, por exemplo, foi formada no movimento.
O David Coimbra, meu colega e apresentador do Timeline, foi quem fez a pergunta direta. Mas, afinal, Luciano será candidato na eleição de 2022? A reposta veio, mas nas entrelinhas.
- Eu tenho um compromisso comigo mesmo de não fazer parte da política partidária. O que mais me incomoda é como esse país desigual. Isso é o que mais atrasa o Brasil. Isso que não nos deixa avançar - declarou.
Luciano tem razão. A desigualdade não só é latente no Brasil, como se aprofundou em tempos de pandemia de coronavírus. Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por exemplo, mostra que a taxa de mortalidade em zonas de altíssima concentração de favelas do Rio de Janeiro, como a Favela do Alemão e a Rocinha, é o dobro (19,5%), na comparação com bairros ricos da cidade (9,2%). Reflexos de um país desigual.
Voltemos à candidatura. Huck não se disse candidato, é verdade. Nem "desdisse". Reiterou que não tem apreço pelas picuinhas partidárias, mas reforçou o incômodo com esta desigualdade mencionada acima. E completou, chamando os brasileiros ao debate:
- O que eu estou fazendo é chacoalhar para que as pessoas prestem atenção na política. Todos nós fazemos parte da solução - disse.
Para meio entendedor, uma chacoalhada basta.
Na conversa, Luciano também contou sobre seu processo de desconstrução em uma série de temas relevantes no debate atual: machismo, racismo e homofobia. Contou sobre o dia em que seu irmão mais novo explicou à família sobre sua orientação sexual, citou o episódio Neymar e a luta antirracista e também afirmou que busca criar sua filha, Eva, com a liberdade para "ser o que ela quiser", rechaçando posturas machistas e conservadoras.
- A gente foi educado numa cultura machista. A mulher tem que estar onde ela quiser. É assim que eu estou criando minha filha - declarou.
Huck foi questionado sobre Bolsonaro, mas disse que não gostaria de "fulanizar" a questão. Reprovou a condução da pasta da Educação e também fez críticas à gestão federal em meio à pandemia do coronavírus.
- Enquanto a educação não for prioridade, a gente vai continuar andando de lado. A gestão da crise sanitária foi muito mal feita.