Enquanto servidores da iniciativa privada enfrentam arrocho nos salários quando não a demissão ou suspensão do contrato de trabalho, o Senado dá sinais de desconexão da realidade e permite elevar o salário de servidores públicos até o fim de 2021, com a derrubada do veto presidencial nesta quarta-feira (20). A falta de responsabilidade é latente e ignora um cenário preocupante onde mais de três milhões de brasileiros ficaram "oficialmente" desempregados entre a primeira semana de maio e a última semana de julho, conforme números do IBGE. Só faltou dizer que a máscara não tem eficácia para proteção contra o coronavírus.
Não à toa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chamou de "crime contra o país" o movimento patrocionado pelos senadores.
- É um desastre, é preocupante porque o Senado é a casa da República. É onde os representantes têm que defender a República. É um péssimo sinal - queixou-se.
Vale lembrar que a suspensão deste reajuste fez parte da negociação do governo quando da aprovação de um pacote de auxílio a Estados e municípios, que amargam perdas na arrecadação por conta da pandemia. O veto agora precisa ser apreciado pela Câmara. Nos bastidores, o governo já acionou sua tropa de choque para tentar reverter o estrago.
Que os servidores são dignos de aumento e de uma remuneração compatível com suas funções essenciais não há dúvida, mas acerta o ministro de Bolsonaro ao dizer que todos estamos no "mesmo teto", sofrendo com os impactos da crise. Como explicar ao funcionário que perdeu seu emprego no setor privado que o funcionalismo habita um mundo paralelo ao cenário de crise? Ou aos milhares de empreendedores que tiveram que encerrar seus negócios diante da pandemia? E àqueles que nem sequer conseguiram acessar o benefício emergencial de R$ 600?
Daí a necessidade de uma reflexão urgente e uma boa dose de responsabilidade, o que aliás deveria ser requisito básico para quem ocupa uma cadeira no Parlamento.