O gaúcho Paulo Ferreira, ex-tesoureiro nacional do PT, foi absolvido após decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) que anulou sentença do ex-juiz Sergio Moro nesta quarta-feira (26). A decisão também beneficiou o presidente da empreiteira Construcap, Roberto Ribeiro Capobianco, no processo aberto a partir de provas obtidas na Operação Abismo. Foi a segunda sentença de Moro anulada nesta semana.
Ferreira é ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, ligado ao ex-ministro José Dirceu, e ex-deputado federal pelo Rio Grande do Sul. Ficou conhecido também por sua ligação com entidades carnavalescas e chegou a ser investigado (e condenado por Sergio Moro) por supostas irregularidades envolvendo pagamentos ao setor. Como suplente na Câmara dos Deputados, acabou ocupando o cargo entre 14 de março de 2012 e 17 de março de 2014.
Na decisão que acabou anulada pelo TRF4 nesta quarta-feira, Ferreira havia sido condenado a nove anos e 10 meses de reclusão em regime fechado, e o empresário, a 12 anos de prisão.
Em 2016, Ferreira foi alvo da 31ª fase da Operação Lava-Jato. Ele teria facilitado a obtenção de propina para o partido – e para si – em contratos da Petrobras. Em especial do contrato celebrado para a construção do novo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da empresa, cujo nome oficial é Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) situado no Rio de Janeiro.
Outras investigações
Além deste episódio, Ferreira também se tornou alvo por conta de repasses de dinheiro que fez de forma sistemática a entidades carnavalescas, conforme apontado pelo ex-juiz Sergio Moro. Na sentença, revelada pelo repórter Humberto Trezzi em GaúchaZH, Moro relacionou 72 depósitos bancários que teriam sido feitos por um intermediário a mando de Ferreira. Entre esses, à Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga, a popular Tinga, uma das maiores escolas de samba de Porto Alegre, que recebeu seis pagamentos no total de R$ 45 mil.
Já Viviane da Silva Rodrigues, madrinha da bateria da Tinga, recebeu, segundo o processo judicial, 40 repasses de dinheiro de Ferreira, feitos pelo intermediário, o ex-vereador Alexandre Romano - que confessou tudo ao juiz e apresentou cheques e comprovantes de banco como provas. O próprio Ferreira admitiu que essas transferências e depósitos foram efetuados por Romano, a seu pedido.
Em outra frente, Ferreira também foi investigado (e chegou a ser preso) dentro da Operação Custo Brasil, que investigou fraude com empréstimos consignados que teria desviado dinheiro do Ministério do Planejamento.
Futebol
Em 2016, GaúchaZH revelou ainda que as relações de Paulo Ferreira com um clube de futebol também continham elementos para possível investigação. À épóca, as suspeitas sobre Ferreira envolviam a intermediação de patrocínio de uma empresa vinculada à Petrobras a pelo menos um clube de futebol do Estado. Durante dois anos, o Brasil de Pelotas recebeu cerca de R$ 700 mil do grupo Agecom, distribuidor e fabricante de lubrificantes com contratos com a petrolífera.
A Agecom era controladora da Petrowax, empresa que em 2005 fez a maior doação privada do ano ao PT, no valor de R$ 600 mil. À época, Ferreira recém havia assumido a Secretaria de Finanças do partido e tentava equacionar uma dívida de R$ 46 milhões, fruto da gestão do ex-tesoureiro Delúbio Soares, envolvido no mensalão.