O gaúcho Paulo Ferreira, ex-tesoureiro nacional do PT, é um apaixonado por Carnaval e fez dele uma das molas propulsoras de sua candidatura a deputado federal. Suplente, acabou ocupando o cargo entre 14 de março de 2012 e 17 de março de 2014, muito em função de votos conquistados nas escolas de samba. Pois agora as folias momescas também representaram a perdição do político. O juiz Sérgio Moro o condenou por corrupção e lavagem de dinheiro. Neste último quesito, o maior peso ficou por conta de repasses de dinheiro que Ferreira fez de forma sistemática a entidades carnavalescas e pessoas ligadas a essa atividade festiva.
O magistrado, na sentença, relaciona 72 depósitos bancários que teriam sido feitos por um intermediário a mando de Ferreira. Entre esses, à Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga, a popular Tinga, uma das maiores escolas de samba de Porto Alegre, que recebeu seis pagamentos no total de R$ 45 mil. Já Viviane da Silva Rodrigues, madrinha da bateria da Tinga, recebeu, segundo o processo judicial, 40 repasses de dinheiro de Ferreira, feitos pelo intermediário, o ex-vereador Alexandre Romano - que confessou tudo ao juiz e apresentou cheques e comprovantes de banco como provas. O próprio Ferreira admitiu que essas transferências e depósitos foram efetuados por Romano, a seu pedido.
Em entrevista a GaúchaZH em 2016, Viviane Rodrigues confirmou ter recebido R$ 61,7 mil em 18 parcelas "porque trabalhou na campanha do ex-deputado". Ela também admitiu ter levado dinheiro em envelopes para escolas de samba de outras cidades. "Em campanha política é assim, ninguém quer saber de onde vem o dinheiro", admitiu ela, na época.
Ninguém, exceto o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário, poderia ter deduzido Viviane. Ferreira chegou a ficar preso por causa desses repasses — cujo dinheiro teria sido oriundo de propinas obtidas para facilitar contratos de empresas particulares com a Petrobras, sobretudo para a construção do novo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da empresa.
Em 2016, a Estado Maior da Restinga animou com samba e carnaval a festa de 53 anos do aniversariante Paulo Ferreira. No site oficial da escola, ele foi saudado como "uma figura muito querida, sempre auxiliando e apoiando a escola de samba da nossa comunidade, bi-campeã do Carnaval de Porto Alegre (2011/2012)". Os carnavalescos, ouvidos por GaúchaZH naquele ano, disseram ter pensado que as doações de Ferreira estavam lastreadas em verbas governamentais. No entender de Moro, não foi assim. A sentença em que condena Ferreira a nove anos e 10 meses de reclusão enfatiza:
"A lavagem, no presente caso, envolveu especial sofisticação, com a realização de diversas transações subreptícias, depósitos múltiplos em contas de pessoas interpostas, serviços inexistentes".
O exemplo de lavagem citado 20 vezes: repasses à Tinga e sua madrinha de bateria.