Madrinha da bateria da escola de samba Estado Maior da Restinga, de Porto Alegre, Viviane Rodrigues confirmou ter recebido valores por determinação do ex-deputado federal e ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, que está preso e é alvo de duas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, sendo uma delas a Operação Lava-Jato.
Por vezes de olhos marejados, a sambista se disse injustiçada, alvo de agressões verbais até de vizinhos. Ela assegura que recebeu os valores porque era funcionária do ex-deputado a partir de um "contrato verbal". Conforme o ex-vereador de Americana e delator Alexandre Romano, o Chambinho, Viviane recebeu, a pedido de Ferreira, R$ 61,7 mil em 18 parcelas. O dinheiro teria se originado de um esquema de desvio de recursos de contratos do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio, do qual Ferreira seria beneficiário.
– Eu recebi. Esse valor era referente ao trabalho que eu prestei ao deputado Paulo Ferreira na campanha de 2010. De onde vinha o dinheiro, eu não sei. Eu sabia que o Alexandre Romano fazia os pagamentos. Do escritório dele faziam a transferência dos R$ 3,5 mil por mês para a minha conta – conta a sambista.
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Ela explicou que, na campanha, organizava encontros de Ferreira com a comunidade carnavalesca. Também participava de visitas a escolas de samba, bandeiraços e panfletagens.
Viviane admitiu que, em 2010, atendendo a pedido do petista, levou um envelope com dinheiro para agremiações do Carnaval de Uruguaiana. Ela disse desconhecer o montante enviado porque estava "lacrado em um envelope" que ela não abriu.
– Ele disse que era um trabalho que o pessoal estava fazendo. Que era um pagamento. Eu cheguei lá e passei para a pessoa para quem ele mandou entregar. E foi só isso. O que fizeram, eu não sei. Sou empregada dele, estava cumprindo ordens do meu patrão. Não nego, aconteceu – descreveu.
A madrinha de bateria se emocionou quando disse que, na terça-feira, não conseguiu ir até uma fruteira do bairro Restinga, onde reside, por ter sofrido acusações de vizinhos. Disse estar desempregada, passando por dificuldades financeiras. Reiteradamente revelou preocupação com prejuízos à carreira. Além de madrinha de bateria da Restinga, ela também desfilará na mesma condição no Carnaval de São Paulo de 2017, na escola Imperador do Ipiranga.
– O pré-julgamento tá aí. Estou sendo a safada da história, mas eu sou a vítima. Eu trabalhei e recebi. Todo mundo sabe que em campanha política funciona assim. Ninguém quer saber de onde vem o dinheiro. As pessoas querem trabalhar e receber. Veio de baixo do colchão? Não sei. Eu estou trabalhando e quero receber – desabafou.
Sobre a relação com Ferreira, Viviane afirmou ter conhecido o petista em 2010, quando ele participou de eventos em escolas de samba. Logo depois, ela recebeu um convite, via associação das entidades carnavalescas, para participar da campanha. Ela distribui elogios ao petista, manifesta solidariedade devido à prisão dele, mas assegura que a relação entre os dois foi apenas profissional e de amizade.
– Ele é uma pessoa formidável, excelente, todos se dão muito bem com ele. Tenho amizade profunda, carinho muito grande por ele. Ele me ajudou muito e não sou ingrata. Independente do que está acontecendo, não me interessa. Eu sempre vou estar com ele.
Viviane explicou que em nenhum momento foi procurada por autoridades e se colocou à disposição para abrir informações e prestar depoimentos.
Leia a entrevista completa:
O Chambinho diz que, a pedido do Ferreira, foram pagos R$ 61 mil para você, mas não especificou o motivo. Você recebeu?
Sim, eu recebi os valores que eram depositados mensalmente. Eram R$ 3,5 mil em 18 vezes. Esse valor era referente ao trabalho que eu prestei ao deputado Paulo Ferreira na campanha de 2010. Isso foi até 2012. Por que se estendeu até 2012? Eu fiquei depois assessorando o deputado aqui em Porto Alegre nos assuntos do Carnaval. Apenas isso. Eu trabalhei, prestei serviço e recebi. De onde vinha o dinheiro, eu não sei. Realmente eu não sei. Não tenho por que esconder. Eu sabia que o Alexandre Romano fazia os pagamentos. Do escritório dele faziam a transferência dos R$ 3,5 mil por mês para a minha conta.
Houve algum contrato?
Não. Eu havia comentado com o deputado sobre um contrato para formalizar e para que depois eu tivesse meus direitos trabalhistas. Ele disse que eu podia entrar em contato com o escritório do Alexandre para pedir isso. Com a pressa e estresse de campanha, eu não fiz isso. Não fiz o pedido.
Foi informal a relação profissional?
Houve um contrato verbal. Eles cumpriram comigo, na data certa, foi isso.
O que você fazia durante e depois da campanha de 2010?
O deputado, dentro do comitê, tinha vários segmentos culturais. Eu trabalhava no segmento Carnaval. Tinha montado dentro do comitê um grupo de pessoas que trabalhava para o deputado. A gente fazia contatos com o pessoal do Carnaval, preenchimento de fichas, trabalho de campanha, organizava encontros com grupos carnavalescos, visitava algumas escolas. No final da tarde, a gente fazia bandeiraço na frente do comitê. Domingos, a gente ia para a Redenção fazer panfletagem.
Onde era esse comitê?
Na Osvaldo Aranha.
Ele não assumiu mandato inicialmente, ficou de suplente. Mesmo sem mandato, você manteve o trabalho?
Sim, mantivemos. Esse trabalho sempre teve continuidade, mesmo sem ele exercer o mandato. As pessoas pediam muitas agendas com ele.
Quando você o conheceu?
Ele ia nos ensaios, em alguns eventos nas escolas de samba. Aí eu fui convidada através da associação das entidades carnavalescas para fazer a campanha. Eu estava numa situação complicada. Eu ganhava muito pouco e precisava me manter. Eu aceitei trabalhar na campanha do Ferreira por este valor. Estava ótimo para manter minhas despesas, minha casa, meu filho. Foi quando o conheci, em 2010. Ele é uma pessoa formidável, excelente, todos se dão muito bem com ele.
A prisão dele surpreendeu você?
Sim, muito. Não imaginava que iria chegar a ele. Independente disso, não vai mudar a pessoa maravilhosa que foi comigo, me ajudou muito. Tenho muito carinho e respeito por ele.
Você conheceu o Chambinho?
Uma vez, em São Paulo. Eu tinha um evento em função do Carnaval e tinha atrasado o meu salário. Eu conversei com ele esse dia. Tudo se resolveu. Me passou uma boa imagem. Quero deixar bem claro que sou inocente. Recebi um salário por um trabalho, e agora estou sendo pré-julgada. Fiz um trabalho lícito, no meu caso não tem irregularidade nenhuma. Eu trabalhei na campanha. Alguém trabalha de graça? Não. Estou à disposição se o juiz quiser me chamar para depor. Hoje estou desempregada. Dependo do meu pai e da minha mãe. Não tenho salário. Não sei se terei um teto para morar daqui uma semana, meu aluguel está atrasado. As pessoas só querem agredir.
Mudou sua vida com as notícias?
Claro. Ontem (terça-feira) mesmo eu fui à fruteira e tive de voltar. As pessoas me conhecem no bairro. Todo mundo sabe, todo mundo leu. O pré-julgamento tá aí. Estou sendo a safada da história, mas eu sou a vítima. Eu trabalhei e recebi. Todo mundo sabe que em campanha política funciona assim. Ninguém quer saber de onde vem o dinheiro. As pessoas querem trabalhar e receber. Veio de baixo do colchão? Não sei. Eu estou trabalhando e quero receber.
A relação de vocês foi somente profissional ou tiveram algum envolvimento passional?
Claro que não. Tenho amizade profunda, carinho muito grande por ele. Ele me ajudou muito e não sou ingrata. Independente do que está acontecendo, não me interessa. Eu sempre vou estar com ele.
O Ferreira pediu para você levar dinheiro para escolas de samba em Uruguaiana?
Sim. Ele disse que era um trabalho que o pessoal estava fazendo. Que era um pagamento. Eu cheguei lá e passei para a pessoa para quem ele mandou entregar. E foi só isso. O que fizeram, eu não sei. Sou empregada dele, estava cumprindo ordens do meu patrão. Não nego, aconteceu.
Você lembra quanto era?
Não vou dizer um valor porque eu estaria mentindo. Foi fechado. Era um envelope, foi lacrado e não mexi. Acho que foi em 2010.