O novo dilema de Jair Bolsonaro tem nome e sobrenome: auxílio emergencial. Com o país mergulhado em uma crise sanitária singular com reflexos econômicos agudos para sua população, o presidente da República terá que decidir nas próximas semanas se prorroga ou não o benefício pago a trabalhadores e trabalhadoras que tiveram sua renda comprometida em meio à pandemia de coronavírus.
Pressionado pela ala política (de olho nos reflexos da sua popularidade), o chefe do Executivo terá que resolver a equação que inclui milhões de desempregados e um país afundado em déficit fiscal. Em outro extremo, a equipe econômica, chefiada pelo posto Ipiranga Paulo Guedes (Fazenda), alerta para os riscos de comprometimento da situação das contas públicas. Ao jornal O Globo, o filho do presidente senador Flávio Bolsonaro mandou o recado: "Paulo Guedes vai ter que dar um jeito de arrumar mais um dinheirinho", ao se referir a um modelo de expansão dos gastos diante da gravidade da pandemia de covid-19.
A discussão ganhou corpo porque o benefício, criado inicialmente para ser pago durante três meses, já foi prorrogado por mais dois (em decreto assinado por Bolsonaro em 30 de junho). Ocorre que os dois meses estão chegando ao fim e a pandemia não dá sinais de ir embora.
Alertou o ex-ministro Thomas Traumann - que é também autor de "O Pior Emprego do Mundo", sobre ministros da Fazenda e as adjacentes crises econômicas : "Se o governo interrompesse o auxílio emergencial em agosto, jogaria nas ruas sem renda e sem nenhuma possibilidade de emprego mais de 20 milhões de brasileiros. O Congresso pressionou a estender o auxílio por agosto e setembro e o time de Guedes engoliu. Agora a pressão para chegar até dezembro é do presidente. Quem garante que em dezembro, o presidente não decida por mais 3 meses de auxílio?".
A análise de Traumann vai além e explora a guinada no posicionamento pretensiosamente "liberal" de Bolsonaro para um populismo (de olho na reeleição) que desconsidera a gravidade no rombo das contas -- pretexto, aliás, usado pelo presidente para fazer passar a Reforma da Previdência em seu primeiro ano de governo. Qual Bolsonaro prevalecerá? O liberal ou o populista?
E o que o PT tem a ver com isso?
A ideia de promover gasto público como forma de estimular a economia, desconsiderando o ajuste nas contas públicas, não é estratégia nova e foi amplamente utilizada por governos petistas, entre eles o de Dilma Rousseff, afastada com voto de Bolsonaro por "pedaladas fiscais". Aliás, partiram de líderes da "direita" e "extrema direita" as críticas mais ásperas, que demonizaram gestões como a de Dilma por promoverem o descontrole dos gastos.
Bolsonaro, então, fará o mesmo que há pouco criticava? Financiará de que forma uma eventual prorrogação do auxílio? Optará por impor mais impostos para conseguir pagar uma conta que não fecha?
Eis o dilema posto. O próprio ministro Paulo Guedes foi autor de críticas ao descontrole de gastos nas gestões petistas e ajustes que não foram feitos por Lula e Dilma (PT). Como responderá agora? Aguardemos cenas dos próximos capítulos.