Com a força que não se via há algum tempo no Brasil (ou desde que a pandemia começou), manifestantes voltaram a ocupar as ruas neste domingo (31) com protestos mais significativos contra e a favor do governo de Jair Bolsonaro. A preocupação diante da disseminação do coronavírus havia esvaziado as ruas, não sem razão, em um país que deve superar hoje a triste marca de 30 mil mortos pela doença. Parte dos apoiadores do presidente, vale reconhecer, não havia se intimidado com as regras de isolamento social e, neste sentido, ocupava as ruas para defender o governo, atacar Congresso e STF e pedir intervenção militar. A novidade deste final de semana é que grupos contrários a Bolsonaro e em favor da democracia deixaram as panelas em casa e também decidiram ocupar o espaço público, em especial a avenida Paulista.
Em São Paulo, a manifestação talvez tenha sido mais visível e, por isso, repercutiu mais. Integrantes de diferentes torcidas organizadas dos quatro grandes clubes daquele Estado (Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo) realizam atos pró-democracia na avenida Paulista, como mostrou a Folha de São Paulo. Rivais em campo, grupos de torcedores se uniram, entre eles um autodenominado antifascistas, ligados ao Palmeiras, que se aproximou de corintianos, em um grupo muito maior.
Na mesma avenida, homens e mulheres com as cores verde e amarelo entoavam cantos já conhecidos em favor da família, contra o sistema e em defesa de Bolsonaro. Narrou também a Folha, que uma mulher tentou furar o bloqueio que separava os dois grupos. Ela usava uma máscara com a bandeira americana e empunhava um taco de beisebol, onde lia-se "rivotril". Sem a pretensão de trazer calma ao ambiente, a mulher marchou em direção ao grupo contrário e precisou ser afastada pelos policiais, que a conduziram ao outro lado da avenida Paulista. A confusão, então, culimou com as já conhecidas a bombas de gás e balas de borracha.
É saudável e reconfortante saber que ainda é possível ir às ruas manifestar opiniões políticas livremente, mesmo que muitos insistam em pedir por um regime que tolhe manifestações e as puna com cassetete e pau-de-arara. Entretanto, também é preciso pontuar que um momento delicado como este, com uma curva ascendente de mortos por covid-19, deveria ao menos sensibilizar o chefe do Poder Executivo, por um ambiente pacífico, unido e em busca de soluções planejadas para preservar vidas e recuperar uma economia já extremamente fragilizada.
O que se vê, infelizmente, é exatamente o contrário. Uma tragédia sanitária, que produz e ainda produzirá sofrimento a milhões de famílias brasileiras - seja pela doença, ou por seus reflexos igualmente trágicos quanto à desigualdade. Um país dividido e chefiado por um presidente que cavalga em favor desse ambiente belicoso para se firmar no Poder. Triste. O Brasil merecia mais, muito mais.