Enquanto brasileiros choram a morte de mais de 8 mil pessoas pelo novo coronavírus, o noticiário precisou abrir um flanco para se dedicar a temas quase que surreais em meio a uma pandemia: arroubos autoritários e antidemocráticos com direito a cala boca presidencial, oferta de cargos políticos em troca de apoio no Congresso e movimentos negacionistas que atacam desde jornalistas até, pasmem, profissionais de saúde preocupados com o colapso nos hospitais. É cedo para fazer qualquer projeção, mas como costuma dizer um amigo próximo, o ser humano parece disposto a nos dar provas diárias de que a humanidade não deu certo.
Vejamos o exemplo do Mato Grosso. Contou o repórter Rafael Moraes Moura, no Estado de São Paulo, que o procurador-geral de Justiça daquele Estado, José Antônio Borges Pereira, decidiu criar uma “ajuda de custo” para procuradores, e promotores cobrirem gastos com a própria saúde. O benefício, apelidado de “bônus covid”, poderia chegar a R$ 1 mil e, não sem razão, entrou na mira do Conselho Nacional do Ministério Público. Um leitor desavisado ironizou: vai precisar entrar na fila da Caixa para receber o bônus?
Na Capital federal, em vez de vidas, cargos. Políticos experientes e, de certa forma, assíduos no noticiário relacionado a grandes escândalos de corrupção gereciam a distribuição de cargos do governo federal para atrair partidos para a base de apoio de Jair Bolsonaro no Congresso. As primeiras nomeações foram publicadas ontem no Diário Oficial. Qualquer semelhança com gestões petistas e emedebistas não é mera coincidência. Ocorre que em um passado não tão distante, alguém havia prometido acabar com isso daí. Tá OK?
E isso sem falar nas demissões de ministros-chave do governo, frituras promovidas pela ala ideológica e a disseminação de fake news. Enquanto isso, valas são abertas na terra para enterrar mais corpos de vítimas da covid-19.
Daí a necessidade de olharmos atentamente ao nosso Estado, o Rio Grande do Sul. Vejamos. Numa triste realidade, o Rio de Janeiro vive um colapso em seus hospitais, o Maranhão precisou decretar lockdown em algumas cidades e a capital do Amazonas chegou ao ponto de precisar pedir auxílio para vinda de novos caixões tamanho é o desespero gerado pela sobrecarga do sistema funerário. Aqui no Rio Grande do Sul, ainda que lamentemos a perda de vidas (e todas merecem respeito), os números estão distantes dessa realidade.
Até aqui, a oferta de leitos vem sendo aprimorada dia a dia, a iniciativa privada e o Poder Público se uniram para construção de um novo hospital em Porto Alegre e o governador Eduardo Leite não toma qualquer decisão que não seja apoiada em ciência, pesquisa e dados técnicos. Para adotar o chamado distanciamento controlado, que será posto em prática nos próximos dias, se utilizou de informações apuradas por uma extensa pesquisa aplicada pela Universidade Federal de Pelotas. E, na terça, em reunião com a Federação Gaúcha de Futebol seguiu firme na ideia de que é necessário pensar, primeiro, em salvar vidas:
- Não vamos forçar a mão para a volta de uma atividade se não tiver segurança para isso.
De fato, é uma postura divergente a que muitos gostariam que fosse adotada. Em entrevista recente a um canal de televisão, o governador chegou a ser chamado de "tirano" por uma participante, fato que, respeitosamente, discordou, lamentando a ignorância e argumentando que suas ações sempre visaram salvar vidas.
E é preciso ter dignidade para enfrentar a reação dos mais diferentes setores que pedem, não sem motivo justo, a retomada das atividades. Eduardo Leite dá sinais de compromisso sério com a vida de milhões de gaúchos ao priorizar a saúde e, ainda assim, se dispôs a construir um projeto de retorno dos mais diversos setores, respeitada a adoção de bandeiras para cada região do Estado. Não à toa foi elogiado pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta como um dos melhores planos de enfrentamento à covid-19 no país.