Pelo quarto final de semana, simpatizantes e opositores do presidente Jair Bolsonaro realizaram manifestações nos arredores do Comando Militar do Sul (CMS), no Centro Histórico de Porto Alegre. Cercados por um forte aparato de segurança, os dois grupos trocaram provocações a pelo menos 100 metros de distância um do outro. Durante a dispersão, um homem que dizia estar armado discutiu com militantes anti-Bolsonaro e foi derrubado após levar uma rasteira. Ele acabou fugindo e o princípio de tumulto se desfez com a chegada de policiais militares.
Para evitar conflitos, a Brigada Militar isolou pelo menos seis quarteirões da região. O bloqueio praticamente congelou a área compreendida entre as ruas dos Andradas e Siqueira Campos, bem como das margens da Casa de Cultura Mário Quintana, na Sete de Setembro, à Rua General Canabarro. De acordo com o comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Fernando Nunes, informações do serviço de inteligência da corporação indicaram que a presença dos grupos seria bem maior do que nas ocasiões anteriores.
No domingo passado (24), militantes intitulados antifascistas impediram que uma carreata em apoio a Bolsonaro passasse pela Rua Bento Martins. A cavalaria da BM foi acionada para separar os dois grupos antes que houvesse confronto. Desta vez, eles nem sequer se aproximaram.
– São como torcidas adversárias, então todo cuidado é pouco. Sabíamos que hoje (31) a adesão seria maior, e nos preparamos com mais gente – justifica o tenente-coronel Nunes.
A presença maior de militantes, contudo, ficou restrita ao grupo que protestava contra o governo. Vestidos majoritariamente de preto, cerca de 300 ativistas ficaram postados na Sete de Setembro. Com faixas, cartazes e adesivos pedindo a saída de Bolsonaro da Presidência, eles gritavam por democracia e chamavam os rivais de “gado”.
Do outro lado, os simpatizantes de Bolsonaro não chegavam a 50 pessoas. Com camisas da Seleção Brasileira e bandeiras do Brasil, eles rezaram um Pai Nosso, pediam intervenção militar e entoaram palavras de ordem contra os adversários, chamados de “comunistas”. Um manifestante segurava um cartaz em apoio ao ministro da Educação Abraham Weintraub e pedia “limpeza no STF”.
– Já é a segunda vez que eu venho a um ato aqui e esse pessoal está lá do outro lado. Parece provocação – reclamou Edson Cavalcanti, um dos organizadores do Aliança Pelo Brasil na Capital e pré-candidato a vereador pelo PRTB.
Mesmo sob proteção dos policiais, o grupo alegou não se sentir seguro e encerrou a manifestação com 20 minutos de antecedência, seguindo em direção ao Parcão. No local, eles se uniram a aliados que montaram o “Acampamento Jair Bolsonaro”, nos mesmos moldes do “Acampamento Sergio Moro” que ali funcionou durante as mobilizações pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. No próximo domingo, eles pretendem retornar à frente do CMS para marcar o que está sendo chamado de “Dia da Desobediência Civil”.
A saída dos bolsonaristas foi comemorada pelos rivais. Eles bateram bumbo e jogaram papel picado para o alto. Em seguida, saíram em caminhada pelas ruas do Centro. Em alguns prédios, simpatizantes saíram às janelas aplaudir o cortejo e bater panelas. Não havia bandeiras de partidos na multidão, apesar da presença de dirigentes políticos do PSOL.
– É uma demonstração de consciência democrática. Ninguém está aqui por partido, mas por causas comuns, como a defesa da democracia e o “fora Bolsonaro” – afirmou o vereador e presidente do PSOL em Porto Alegre, Roberto Robaina.