O presidente da República, Jair Bolsonaro, se dirigiu a apoiadores, em Brasília e parabenizou à Polícia Federal nesta terça-feira (27) quando a operação deflagrada mirou um adversário político e possível adversário em 2022: o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, suspeito de participar de um esquema que desviou recursos da Saúde, em meio à pandemia do coronavírus. Voltará o presidente a fazer o mesmo nesta quarta?
Agentes da PF estão nas ruas em busca de informações, documentos e provas no inquérito que apura ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal, presidido pelo ministro Alexandre de Moraes. Alguns dos alvos são apoiadores do presidente: o empresário Luciano Hang, da rede de lojas Havan, o ex-deputado e neobolsonarista Roberto Jefferson e o blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre. Em comum? Muitos pontos. Entre eles, o apreço pela disseminação de notícias de procedência duvidosa. No caso de Roberto Jefferson, a manifestação foi além: em entrevista à Rádio Gaúcha, ele sugeriu que o presidente usasse a "força" para depôr todos os ministros do STF, a quem chamou de velhinhos e velhinhas ligadas ao comunismo. E finalizou: "a toga não é mais forte que o fuzil". Ouça:
Antes que a discussão sobre liberdade se levante, é preciso pontuar: a apuração não busca reprimir o direito à livre expressão que é assegurado a todos. O objetivo, asseguram pessoas próximas ao STF, é apurar o método orquestrado que dissemina notícias inverídicas com intenção pré-estabelecida, que vai desde o ataque a reputações até mesmo a incitação a violência contra autoridades da República. A investigação, portanto, quer desvendar quem organiza e quem financia um esquema muito bem organizado de construção e disparo de falsas notícias que se espalham rapidamente pelas redes.
Cabe lembrar também que não é de hoje que a Polícia Federal está de olho nesses movimentos. Há um mês, quando Bolsonaro demitiu Maurício Valeixo do comando da instituição, o ministro Alexandre de Moraes chegou a expedir determinação para que fossem mantidos no comando delegados que trabalham em inquéritos na Corte. O objetivo, ali, era evitar que o novo diretor da PF alterasse a orientação das investigações. Como explicou o portal UOL, ps delegados indicados já trabalhavam em duas frentes na Corte. Uma sobre ofensas, ameaças e fake news enquanto e outra sobre o financiamento de atos com pautas antidemocráticas.
Voltemos à pergunta. Bolsonaro voltará a aplaudir a Polícia Federal? Deveria. Como órgão de Estado, a instituição deve e precisa investigar a todos, sem blindar filhos, amigos ou aliados políticos. E sem privilegiar apuração determinada por desejo pessoal de quem quer seja.