O ex-procurador geral da República Rodrigo Janot quebrou um silêncio de meses para atender, em entrevista exclusiva, ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Na conversa, narrou episódios importantes do período em que chefiou o Ministério Público Federal, quando, entre outros fatos, denunciou por duas vezes o então presidente da República, Michel Temer. Foi na gestão de Janot também que um senador da República foi preso no exercício do mandato — Delcídio do Amaral (à época, líder do governo Dilma Rousseff) havia sido gravado em conversas nada republicanas. O STF autorizou a prisão.
Na entrevista, Janot contou também sobre a operação que resultou no afastamento do senador Aécio Neves (PSDB), hoje deputado federal, e narrou um episódio em que o tucano o convidou para ser candidato a vice na chapa que disputaria à Presidência da República. O fato curioso, descrito no livro Nada Menos Que Tudo, da editora Planeta, é que Aécio decidiu exaltar os dotes culinários do procurador para convencê-lo a aceitar o desafio.
— Ele chegou, me convidando para ser vice-presidente e disse que sabia que eu cozinhava muito bem. Disse que seria uma coisa inédita, o vice-presidente do Brasil recebendo autoridades de avental, cozinhando para todo mundo. Eu agradeci o convite. E acrescentei que para exercer essa função (vice-presidente) teria outras características que não somente a habilidade na cozinha — explicou.
E brincou, em alusão à menção que os apresentadores fizeram a recepção e dotes culinários da apresentadora Ana Maria Braga, já que seria um vice que cozinharia para os demais políticos:
— Só me faltaria ter o Louro José — respondeu, bem-humorado.
Para Janot, a Lava-Jato mudou o país para melhor, no sentido de punir autoridades corruptas e pautar o combate à corrupção no cenário nacional. O ex-procurador geral também comentou o episódio envolvendo o ex-deputado e ex-assessor da Presidência Roucha Loures e a "corridinha da mala" com R$ 500 mil, que seria fruto de propina paga pela JBS — a partir de uma operação controlada com MPF e Polícia Federal, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal.
— Aquilo, enfim, me gera perplexidade até hoje. Naquela altura da Lava-Jato, já tinha ocorrido a delação do fim do mundo, que era a da Odebrecht. Aí veio a colaboração desse executivo (Ricardo Saud). Então, a da JBS foi a delação do fim do universo. O alcance foi enorme. Esse trabalho, essa "malinha" que as pessoas acham que foi o acaso, foi uma ação controlada, deferida pelo ministro (Edson) Fachin, o pagamento dessa "propina", foi autorizada pelo Supremo, para que se gravasse um áudio e vídeo. Então, esse trabalho da mala foi primoroso, feito por um delegado gaúcho (Thiago Delabary) — explicou.
Janot também voltou a explicar como foi o momento tenso em que foi armado ao STF, numa reação ao ministro Gilmar Mendes.
— Eu não agi como PGR, eu não agi como advogado, não agi como autoridade. Aliás, eu não agi em momento nenhum. Eu pensei como pai, como pai mesmo. Como pai que quer muito bem a seu filho — respondeu, citando sua indignação com o fato de a filha dele ter sido alvo de insinuações por parte do ministro da Suprema Corte.
Confira outros trechos da entrevista: