Diante da polêmica envolvendo as comemorações ao golpe militar de 1964, determinadas pelo presidente da República, o músico Lobão divulgou vídeo em que faz críticas à ditadura no Brasil. Por conta disso, se tornou alvo da ira de apoiadores de Jair Bolsonaro, de quem é apoiador e eleitor. "Eu acredito no Bolsonaro, acredito no governo e vamos em frente, com toda a certeza", explicou a coluna.
Em tempos de ataques de fúria na rede, Lobão fez uma reflexão importante, ao afirmar que há tempos vem percebendo um comportamento "autoritário" e "beligerante" em grupos de apoiadores. Após o episódio, o músico gentilmente aceitou responder perguntas da coluna para explicar um pouco mais sobre sua visão e disse se considerar um "agente provocador" dessa discussão.
De que forma você avalia a determinação do presidente Bolsonaro a respeito das comemorações do golpe militar de 1964?
Eu acho que os militares voltaram ao poder de uma maneira democrática. Eu ajudei e ainda continuo ajudando, eu confio no governo Bolsonaro, para mostrar inclusive a nossa admiração pelos militares. Não tenho nada contra. Agora, colar dentro de um período que é irrefutavelmente negro, um período onde os militares, como eu disse no vídeo, salvaram o país do comunismo eminente, isso não resta a menor dúvida. Mas ao fecharem o congresso e caçarem os principais estadistas da época, o Lacerda, o Juscelino Kubitschek e se prolongar por 23 anos, criando uma das maiores taxas de inflação da época, uma política absurda e obtusa de proteção do mercado brasileiro que emperrou todas as negociações de importação que eram piores das que temos ainda hoje. A explosão da violência nas cidades, autoritarismo, censura, medo das pessoas falarem as opiniões políticas. Então esse tipo de acontecimento é um fato irrefutável e é mórbido querer comemorar uma situação como essa. Eu acho que sim, deve ter uma reflexão sobre isso, eu escrevi um livro, inclusive, contra a comissão da verdade, eu acho que fizeram uma “vilanização” desleal e desonesta dos militares na época. É uma situação complexa, não é assim “o bem e o mal”. A matiz do bem e do mal se confunde aí em várias nuances, em ambos os lados.
Apesar dessa discordância, você continua apoiando o governo Bolsonaro em outros temas?
Eu simplesmente discordei de uma comemoração. Então como governo, eu não abro! Eu acredito no Bolsonaro, acredito no governo e vamos em frente, com toda a certeza. Espero que o governo de cabo a todo o projeto de governo que eu aprovei e por isso votei neles.
Você se surpreendeu com a repercussão por parte de apoiadores e seguidores do presidente Bolsonaro?
Eu fui o agente provocador. Eu estava já há quase um mês fora do Twitter e alertando: "olha, eu não quero participar de uma turma histérica, autoritária, beligerante, desunida, que fica dando tiroteio em cada um, linchando jornalistas, como o linchamento do Felipe Moura Brasil, do Augusto Nunes, do Antogonista em geral." Isso tudo foi me deixando preocupado e o fato de eu fazer esse vídeo, foi como agente provocador. Eu sabia que esse tipo de vídeo ia trazer à tona, com muita clareza, tudo isso que eu vinha denunciando esse mês todo. Então eu só posso agradecer e, mais uma vez, conferir a previsibilidade de que um ser reativo vira uma marionete de quem é relativamente um pouco mais esperto do que ele. E esse é o meu caso.