A noite do último domingo (5) foi dela: Fernanda Torres conquistou o público (e emocionou o Brasil) ao vencer o Globo de Ouro de melhor atriz em filme dramático. Mas foi, também, de uma outra grande atriz, que nos últimos anos vinha sendo preterida pela indústria do cinema por um motivo inacreditável: a idade.
Envelhecer, meu amigo, minha amiga, é cruel especialmente para as mulheres. Cinquentões grisalhos costumam ser vistos como “charmosos”, “maduros” e “sexies”. A versão feminina é bem diferente: “desleixada” e “velha” são apenas alguns dos adjetivos usados para defini-las, caso não correspondam aos padrões esperados.
Se já é difícil passar da barreira dos 50 anos para nós, reles mortais, imagine para quem vive da imagem. É o caso de Demi Moore. Quando a atriz mundialmente conhecida pela doce (e jovem) personagem de Ghost (1990) amadureceu, foi deixada de lado.
Demi contou que vivia um momento pessoal ruim quando o roteiro de A Substância, de Coralie Fargeat, foi parar em sua mesa. Estava em baixa e sem perspectivas. Além de tudo, seguia sendo vista em Hollywood como uma "atriz menor", de filmes divertidos, mas rasos.
Até que foi fisgada por aquele roteiro insano e entendeu a mensagem. O filme conta a história de uma mulher famosa (estrela de um popular programa de ginástica na TV) que se submete a um procedimento misterioso (e dilacerante) para rejuvenescer.
No fundo, o que está em discussão na tela são temas como o culto à juventude, a obsessão pela beleza e os sentimentos de obsolescência e inadequação sentidos, em especial, pelas mulheres. Bingo.
— O universo me disse que eu ainda não havia terminado — contou Demi, na premiação em Los Angeles.
Ela aceitou o papel, fez uma atuação brilhante e, aos 62 anos, se consagrou no Globo de Ouro (lado a lado com Fernanda, a quem abraçou), com o primeiro grande prêmio de sua trajetória.
Quando parecia impossível, ela deu uma surra no etarismo.
Em seu discurso, a atriz desabafou sobre os rótulos que ganhou e os preconceitos que enfrentou ao longo da carreira. Disse que o filme e sua vitória são um recado para as mulheres que acreditam que nunca são "inteligentes o suficiente, ou bonitas o suficiente, ou magras o suficiente, ou bem-sucedidas o suficiente, ou basicamente não o suficiente".
— Hoje, finalmente me sinto eu mesma — concluiu Demi Moore, falando por si e por todas nós.
Aliás...
Além de Demi Moore e Fernanda Torres, outras atrizes 50+ arrasaram no Globo de Ouro: Viola Davis (59), Cate Blanchett (55), Nicole Kidman (57), Tilda Swinton (64). Kate Winslet e Angelina Jolie, com 49, também.
Cultura velhofóbica
A antropóloga Mirian Goldenberg, autora de A Invenção de uma Bela Velhice, vem alertando para os perigos da cultura velhofóbica. A gente só muda isso se parar de ver apenas doença e feiura na velhice.