Boa opção para quem busca empreender, o mercado de franquias é um setor em plena expansão. É o que indicam os dados da Associação Brasileira de Franchising (ABS), que revelam um crescimento de 12,1% na receita do setor no terceiro trimestre do ano, numa comparação com o mesmo período em 2023.
O faturamento passou de R$ 62,676 bilhões para R$ 70,231 bilhões no período. Em 12 meses, a variação foi de 14,4%, passando de R$ 231,584 bilhões para R$ 264,874 bilhões.
Entre os setores, a área de entretenimento e lazer foi a que registrou maior crescimento na receita, com 15,3%. Depois, o setor de alimentação e food service, com alta de 14% no faturamento.
O modelo de negócio já testado e com know-how de empreendedores experientes é atrativo a quem busca se inserir no universo dos negócios.
Conforme explica Jociane Ongaratto, analista de competitividade setorial no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as franquias são uma excelente opção, especialmente para quem quer começar um negócio e pretende ter um modelo já testado e com um suporte operacional:
— É isso que a gente espera que as franqueadoras entreguem para a sua rede de franqueados. O sistema de franquias oferece essas vantagens, como o treinamento, acesso a fornecedores, fornecedores que já são mapeados pela franqueadora, plano de marketing já estruturado. E isso reduz alguns riscos desta vida de empreendedorismo — explica.
Com marcas consolidadas e reputação já conhecida pelos clientes, as franquias também facilitam a conquista por clientes:
— É essencial que essa pessoa que busca empreender com um modelo de franquias que avalie a franqueadora, o modelo de negócio e, principalmente, que tenha entendimento sobre qual o perfil de empreendedor que essa pessoa é — destaca Jociane.
De acordo com a analista de competitividade setorial do Sebrae, antes da escolha da franquia, o empreendedor deve entender o que busca, o que está apto a fazer, o que espera do negócio e entender o que busca com o empreendimento.
— É preciso que esse empreendedor analise o mercado local, entendendo onde ele tem intenção de colocar essa franquia, entendendo se é viável naquele mercado. Verificar se existe demanda daquele determinado produto ou serviço para aquela região que ele busca implementar o seu negócio. Também é importante consultar a Circular de Oferta de Franquia (Cof), que é um documento obrigatório e que dá detalhes dos custos, do suporte e traz histórico da franqueadora — aponta Jociane.
Foi a partir do estudo do mercado e após entender o tipo de empreendimento que faria mais sentido com seu perfil que Bruno Vaz e os sócios Alan Siqueira e Leonardo Fumegalli optaram por franquear um restaurante com base na tradição gaúcha. O Espetiño foi uma escolha baseada em experiências pessoais e no estudo do mercado consumidor em Caxias do Sul:
— A gente já conhecia a franquia de ir comer. O feedback de todo mundo que a gente levava lá era muito bom, por ser um cardápio diferente, que não tem em outro lugar. É muito diversificado. Em Caxias, tem várias opções de hambúrguer, de pizzaria. O Espetiño não tinha nada parecido. E era uma das possibilidades que a gente gostava mais — explica Vaz.
Como o estabelecimento já tem um padrão de decoração, cardápio consolidado e processos definidos, o tempo entre fechar o negócio e abrir a franquia em Caxias foi de 55 dias.
— Essa aqui é a 12ª loja da franquia do Espetiño. O que tinha pra dar errado, meio que já deu. Eles já sabem, então eles nos deram um feedback do que poderia acontecer. A nossa expertise foi somada a isso, então os processos foram mais rápidos. A gente não perdeu tempo com explicação de coisas que a gente já sabia — orgulha-se o franqueado.
Os sócios já sabiam que o empreendimento seria uma franquia, justamente pela questão da facilidade nos processos:
— A gente queria que tivesse alguma coisa que tivesse planilhas de controle pronta, uma base de marketing, plano de ação. Essa expertise nos facilitou esse processo.
Na escolha, também pesou a flexibilidade da franquia nas ações de marketing e cardápio:
— A escolha deles também foi por ter flexibilidade, porque a maioria não tem. A maioria não deixa mudar e é muito engessado. A parte ruim da franquia é isso. Como a gente conhece a nossa cidade, sabe como funcionam as coisas, o que dá resultado, o que não dá, o que as pessoas gostam. E a franquia não se opôs, porque eles entendem que dá resultado — afirma.
Desde a abertura do restaurante, em setembro de 2024, os resultados têm sido positivos em fidelização de clientes e lucros atingidos.
— Esse vínculo com o Rio Grande do Sul, de ser o churrasquinho dos Pampas, de ter o espetinho que a gente come na saída do jogo de futebol ou em casa fazendo um espetinho rápido influenciam. Essa linguagem do sabor do Rio Grande, de ter chapas, de ter a base de carne, que aqui se consome muito, facilitou o processo. A gente achava que ia ter dificuldade na montagem das equipes, que é a maior dificuldade do processo, já que nos outros processos a franquia já nos deu um respaldo bem forte e o vínculo com o Rio Grande do Sul acelerou o processo pra crescer — pontua Vaz.
Franquia foi opção para trocar de profissão e tirar o sonho do papel
De docente no Ensino Superior a militar do Exército, Ariane Franzen decidiu mudar de vida e empreender. Proprietária da franquia da loja de cosméticos L'occitane Au Brésil, no Shopping Villagio Caxias desde 2023, ela conta que não foi sua primeira opção quando começou a planejar o empreendimento próprio.
— Fiquei alguns meses pensando e essa era a quinta opção. Ela nem estava na minha lista. Pesquisei outros tipos de negócios para trazer algo novo. A franquia surgiu por conversas com outros empreendedores. Gosto de tudo o que envolve o público feminino, acessórios, moda, estética. Eu amo. Então, tinha que ser voltado também pra esse lado — afirma.
Depois de pesquisar o público consumidor e o espaço deste mercado em Caxias do Sul, Ariane tomou a decisão de ser franqueada da marca.
— Conversei com várias pessoas que gostavam muito do produto por conta da qualidade que oferece, pela matéria-prima utilizada brasileira e por ser quase vegano. Eu percebi que para começar seria mais interessante pegar algo que já viesse pronto — explica.
Por ser uma operação que já existia em Caxias, mas que foi encerrada na época da pandemia da covid-19, em 2020, o público consumidor da marca já estava consolidado:
— Foi algo que eu nem esperava. Além de tudo que surge, o medo, uma certa insegurança, as coisas fluíram muito bem. Talvez porque eu estava decidida, me preparei e estava preparada em outros aspectos. Porque a gente tem que ter uma preparação também de planejamento — avalia Ariane.
As perspectivas para 2025 e 2026 são de crescimento no empreendimento, mas Ariane leva a situação com cautela.
— Pra mim, hoje, uma dificuldade é não ter um estoque aqui dentro do shopping. Um estoque para poder organizar as mercadorias, porque não é qualquer espaço. Isso é uma coisa que eu não tinha noção antes de abrir. Quem tem ideia de abrir algo, eu digo: abra, mas vai acontecer muita coisa que você vai aprender na prática — afirma.
Investimento que requer esforço
Apesar de um projeto de negócio pronto, instalar uma franquia não é sinônimo de sucesso, conforme explica Jociane Ongaratto, analista de competitividade setorial no Sebrae.
— Muitos empreendedores pensam que, por ter um modelo profundo, o esforço é menor. Isso não é verdade. Por mais que por vezes a franqueadora vá mostrar exemplos de operações que estão tendo sucesso, isso não quer dizer que toda unidade daquela rede vai ter sucesso. O resultado da empresa depende diretamente do esforço e da dedicação do empresário, que é o franqueado — analisa.
Por isso, Jociane destaca que é preciso que o empreendedor saiba que precisará trabalhar para atrair clientes, garantir a qualidade do serviço e para alcançar metas estabelecidas pela franqueadora.
— A franquia exige uma disciplina para seguir os padrões que foram disponibilizados e exige esse desafio de performance de um negócio como outro qualquer. A gente precisa sempre desmistificar essa máxima de que a franquia, porque ela deu certo em algum lugar, ela vai dar certo no outro — relata.
De negócio familiar a franquia
Fundada em 1979, a rede de franquias caxiense Doce Docê começou como uma pequena lanchonete no centro da cidade. Com 45 anos de existência, a empresa familiar tornou-se franquia apenas em 2019, uma vez que o foco anterior era apenas nas lojas próprias.
— Hoje a gente tem 12 franquias. Como viramos as operações para franquias, a gente olha para todas as lojas como franquias. Atualmente, temos unidades em Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Canoas e Porto Alegre. A mais recente é uma operação de gelatos no Aeroporto Salgado Filho — explica Pedro Toss, gerente de expansão da marca.
A oportunidade de abrir lojas fora de Caxias começou em 2016, com uma unidade no Bourbon Hipermercado Canoas. Em 2018, foi a vez de Porto Alegre, no Shopping Praia de Belas.
— Quando a gente resolveu expandir com franquias, que foi em 2018 e 2019, a gente precisou estruturar o negócio para virar franquia. Já tínhamos alguns pré-requisitos, uma marca e um modelo de negócio testado e validado. Já tínhamos toda a estrutura montada, produção, mix de produto. Faltava, na época, padronizar um pouco mais a questão de manuais e estrutura para a franquia — relembra Toss.
Por isso, na época, contrataram uma consultoria especializada de São Paulo, que auxiliou na elaboração de manuais e na estruturação do modelo para franquia.
— Ficou parecido com o que já tínhamos, mas teve aperfeiçoamento de processo. Quando se para pra discutir com uma consultoria, se enxerga vários pontos em que pode melhorar e potencializar. Muita coisa que, às vezes, não estava escrita e que a gente documentou — explica.
Após o processo de virar franquia, a Doce Docê chegou também ao Bourbon Teresópolis, na Capital, Piazza Salton, em Bento Gonçalves, Hospital da Unimed, em Caxias do Sul, Zaffari Lindóia, em Porto Alegre, e mais recentemente ao Aeroporto Salgado Filho, na Capital.
— Nosso objetivo de crescimento é ser um crescimento sustentável e organizado. Como a gente tem a fábrica e a logística próprias, a gente tem que crescer de forma regionalizada para poder viabilizar toda essa parte de fornecimento de produto. Agora, estamos mais focados aqui na Serra gaúcha e Região Metropolitana de Porto Alegre. Tem muita oportunidade ainda nesse eixo — vislumbra o gerente de expansão da rede.
Para atingir novos mercados, como foi o caso do Aeroporto Salgado Filho, o modelo de loja foi diferente das demais: é focado apenas no gelato, sorvete tipo italiano, a pedido do próprio aeroporto.
— É um produto que faz parte do mix da Doce Docê. É a primeira loja com esse modelo de operação. Vamos entrar em testes agora, vamos ver performance dela e entender o conceito. Daqui a pouco, pode ser outro formato que pode estar tendo mais operações também — analisa.
Análise e compatibilidade de perfil para ser franqueado
Para ser franqueado, não basta apenas o interesse no negócio. É um dos aspectos levados em consideração, mas, para além disso, os franqueadores buscam entender os objetivos do interessado e alinhar expectativas:
— Comprar uma franquia não é comprar um carro, ou um imóvel. É empreender, montar um negócio e virar empresário. A gente procura entender o que a pessoa está buscando com isso, quais são as experiências que a pessoa já teve, em termos de gestão, quais são as qualificações, e alinhar as expectativas do que ele está buscando. Entender se o perfil do candidato está alinhado com o que o negócio precisa — explica Pedro Toss.
Dessa forma, a rede busca concretizar bons negócios que prosperem, sem foco no número de lojas, mas, sim, na manutenção dos negócios.
— Os dois lados vão entendendo se faz sentido seguir adiante ou não. Na nossa conversa a gente explica muito bem como é que é o negócio, o processo da franquia, a seleção de franqueados. A franquia aumenta muito as chances de sucesso, porque o negócio já está testado e validado — diz.