Depois de dias sem vê-lo, é um alívio olhar para cima, neste final de semana, e admirar o céu azul outra vez, ainda que a fumaça das queimadas siga rondando, sorrateira e ameaçadora. É engraçado como, às vezes, precisamos de um baque para perceber - e valorizar - as coisas simples da vida.
A beleza do firmamento é um desses casos. Antes do avanço dos incêndios criminosos, quem acreditaria que ficaríamos quase um mês impedidos de observar o anil celeste? Em 30 dias, foram apenas dois, até então, sem que a névoa insalubre e triste encobrisse o horizonte.
Vivemos manhãs e tardes cinzentas, embaçadas e estranhas. Foram noites quase sem lua, tolhidas de estrelas, e dias de sol travestido em bola vermelha apocalíptica, como nos filmes (ruins) do fim do mundo.
Ver o índigo de novo sobre nossas cabeças soa como um reencontro com a normalidade perdida, uma espécie de trégua, um respiro. Talvez os poetas expressem melhor o sentimento, aguçado pelo futuro incerto. Até quando teremos o céu azul?
As chamas não cessam. A inconsequência e o negacionismo climático persistem no país. A bruma tóxica segue presente. É um murro na nossa cara, e muitos de nós ainda não entenderam de onde vem o golpe.