O sol virou uma bola vermelha e estranha, e os olhos ainda parecem embaçados, mas não são eles o problema: é a fumaça, cinza, espessa e ameaçadora, que nem a chuva deste início de quinta-feira (12) parece dissipar. E nós? Assistimos ao “espetáculo” passivamente, de camarote. Normalizamos o fim do mundo.
O Brasil mergulhou na fuligem das queimadas criminosas e dos incêndios fora de controle e não houve nenhum grande protesto sequer. Não vi multidões nas ruas exigindo reação das autoridades.
Precisou um ministro do STF entrar na parada para convocar bombeiros militares e determinar que o governo federal apresente, em um prazo 90 dias (como assim, 90 dias?), um plano nacional de enfrentamento a queimadas para 2025 (2025???).
Só na última terça-feira (10), após semanas de crise, o presidente Lula e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foram até a Amazônia ver os estragos de perto e apenas então houve a promessa de criação de uma Autoridade Climática. Demorou e muito.
Cadê a esquerda que vivia caindo de pau nos negacionistas climáticos do governo passado? A pressão por ações concretas para mitigar os efeitos da emergência do clima precisa continuar, independentemente de que partido esteja no comando.
E nós? Viramos zumbis do apocalipse. E o pior: ainda registramos tudo em selfies postadas nas redes sociais. A distopia é tamanha que “o fim do mundo” ganhou status instagramável. Oba, “muitos likes”, que delícia! Estamos, literalmente, brincando com fogo...
Juro que planejava voltar das férias com assuntos amenos. Mas não consegui parar de olhar para cima e de me espantar com a letargia coletiva em que nos metemos.
A era da ebulição global está dando tapas na nossa cara. No primeiro semestre, ficamos embaixo d’água, com chuvas nunca vistas. Neste segundo semestre, estamos cercados pelo fogo e pela fumaça e com a maior parte do país enfrentando uma severa estiagem, e nós seguimos nossa vidinha tacanha como se nada fosse.
Só quero o céu azul de volta.