A pandemia silenciosa e invisível (para alguns) do lixo oceânico persiste. As imagens que você vê ao lado são itens coletados na Praia Grande, em Torres, nos últimos dias, com procedência internacional. As embalagens indicam como origem Kuala Lumpur, na Malásia, Togo, na África, e Singapura, no sudeste asiático.
Em algum lugar do planeta, alguém jogou os resíduos “fora” e eles viajaram centenas de quilômetros até parar aqui, no litoral gaúcho. Infelizmente, não estão sozinhos. Juntaram-se a toneladas de microplástico e outros descartes que poluem o mar e a nossa costa. O “global” e o “local”, no fim, tornam-se a mesma coisa, misturam-se e traduzem um alerta que cientistas têm feito há décadas: as fronteiras geográficas e políticas esfarelam-se quando o assunto é meio ambiente, assim como também não existe “jogar fora”. Fora de onde e para onde?
— Encontrei esse material em um trecho de cem metros de praia e me chamou atenção a origem de cada item. Coleciono esse tipo de embalagem para intervenções de educação ambiental em escolas e eventos. Tenho cerca de 50 itens do tipo e até já poderia fazer um museu do lixo oceânico. Mostro isso para que as pessoas tenham noção do que a gente recolhe na areia. É uma pandemia silenciosa e quase invisível — lamenta Alexis Sanson, à frente do projeto Praia Limpa Torres.
Não é à toa que a ONU declarou o período de 2021 a 2030 como “Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável” ou, simplesmente, Década do Oceano. Mas quem liga? Há estimativas que indicam o descarte de 25 milhões de toneladas de lixo nos oceanos todos os anos — é até difícil imaginar esse volume e mensurar o que significa.
O que estamos fazendo para mudar isso? Não me refiro só a empresas e ao poder público, mas também a nós, consumidores. Essa discussão deveria estar no topo das nossas prioridades.