Era para ser um dia de festa: o verde-amarelo predominava nas roupas e bandeiras, os escritórios estavam parados, as ruas, às moscas e os bares, apinhados de gente. Tudo pronto, enfim, para a explosão de alegria. Só que não.
Há 10 anos, em 8 de julho de 2014, vivemos o maior vexame coletivo da história futebolística brasileira, quiçá mundial. A garbosa pátria de chuteiras travou, tropicou nas próprias pernas, rodopiou e rolou para o brejo - “eine Katastrophe”, no idioma dos nossos algozes.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete. Por pura compaixão do time alemão, que teve piedade dos adversários no segundo tempo, não foram oito ou nove gols, , como descreveu Diogo Olivier à época. Só conseguimos fazer unzinho, e desconfio que foi graças a uma “ajudinha” amiga dos concorrentes, tão desconcertados diante da situação inusitada quanto nós.
Humilhação suprema: depois da derrota acachapante, fomos descobrir que, no intervalo da partida, o técnico alemão Joachim Low chegou a pedir aos liderados que tivessem “respeito” com os herdeiros de Garrincha, Zico e Pelé.
Foi constrangedor e vergonhoso, do início ao fim. Ainda é.
Preciso dizer, a propósito, que não me lembro onde estava naquela tarde terrível. Apaguei a data da memória. Não recordo de nada. Vi o jogo até o quinto balaço germânico, disso eu tenho certeza, mas não sei onde nem como. Nem com quem. Deve ser o trauma.
Pior do que a sensação de desgosto em campo só os outros 7 a 1. Sim, porque ainda hoje tenho sérias dúvidas se sediar a Copa do Mundo no Brasil foi mesmo uma boa ideia. Havia grande esperança depositada nas “obras da Copa”. Só se falava nisso, lembra?
Talvez você tenha visto um post do Petković, ex-jogador e comentarista esportivo, publicado em 2010 no Twitter (hoje X), no auge das expectativas. Ele escreveu assim: “Ânimo, galera, tudo vai melhorar depois da Copa de 2014”. Bem, não preciso nem dizer que a mensagem “envelheceu mal”. Replicada 245 mil vezes, virou meme, uma triste piada (sem graça).
Muitas obras foram concluídas, é verdade, mas, uma década depois,há projetos que, ao menos em Porto Alegre, jamais saíram do papel.
Cansei de fazer reportagens em Zero Hora sobre o sonhado metrô. Lembro que uma delas teve até um infográfico do tamanho de uma página, desses que mostram em detalhes “como vai ser”, cheio de números e informações.
Também gastei tinta e vocabulário com os “Portais da Cidade”. O projeto para a implantação do sistema de BRTs (Bus Rapid Transit) prometia estações amplas e climatizadas, ônibus modernos e novos pontos de parada, tudo conectado à linha de trens subterrâneos. Pois é.
É claro que nem tudo foi malogro e decepção, mas ainda hoje nos debatemos diante de problemas básicos de infraestrutura. Fora todo o resto. De 7 a 1 estamos fartos.
Ah, falando nisso, se alguém aí lembrar onde eu estava naquele dia, me conta. Pensando bem, não conta, não. Melhor deixar assim...