Desde o início da semana, imagens de um antigo guapuruvu sendo derrubado no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, causam comoção e protestos nas redes sociais (e fora delas). A árvore majestosa, da altura de um prédio, foi cortada para dar lugar a um condomínio.
O empreendimento fica na esquina das rua Eça de Queiroz e Felipe de Oliveira e foi batizado pela construtora Plaenge de "Verdant". É o termo, em francês, para designar "verdejante" (sim, eu estou pensando, provavelmente, o mesmo que você).
O fato é que a remoção do guapuruvu — espécie nativa da Mata Atlântida — ocorreu dentro da lei, com autorização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) e com compensação ambiental garantida por meio do plantio de mudas nativas.
Nada disso foi o suficiente para acalmar os vizinhos que viram o corte de suas janelas ou pelo vídeo espalhado nas redes e chegaram a colar cartazes indignados nos tapumes.
— Era uma árvore imensa, linda, elegante, que dá flores amarelas belíssimas. Lembro dela desde que viemos morar aqui no bairro, em 1966. É uma lástima o que aconteceu — lamenta Lucia Verissimo, companheira do nosso maior cronista, Luis Fernando Verissimo, que mora na região.
Não houve ilegalidade no ato, é verdade. A empresa adquiriu o terreno e, com autorização dos órgãos responsáveis, tinha e tem o direito de fazer o que quiser com ele, mas a revolta da vizinhança é compreensível, mesmo com a contrapartida ambiental prevista. Ainda que seja um número maior de árvores, uma planta como essa demora anos até atingir o mesmo porte. Além disso, houve aval para outros cortes.
No momento em que acabamos de passar pela maior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul, quando cientistas e ambientalistas finalmente começam a ganhar ouvidos, será que não haveria um jeito de incorporar o guapuruvu ao projeto?
Essa espécie tem características que, pelas raízes e pela queda de folhas e sementes, podem não ser as mais adequadas para ladear um residencial, mas será mesmo que não haveria uma alternativa ali ou, ao menos, isso não poderia ter sido conversado com a comunidade do entorno? O "Verdant" não ficaria mais vivo e mais bonito, se o projeto contemplasse a árvore? Não seria um bom exemplo da Capital que queremos e precisamos, com mais verde e não menos verde?
São perguntas honestas e francas, de quem reconhece a importância de novos empreendimentos para a cidade, inclusive para a geração de emprego e renda. O desfecho dessa história diz muito sobre Porto Alegre e os desafios que temos pela frente.
Nota da construtora
Após a publicação do texto acima, a construtora Plaenge enviou uma manifestação oficial sobre o assunto por meio de sua assessoria de comunicação. Abaixo, transcrevo a nota na íntegra:
"Reconhecido por sua madeira macia e raízes superficiais, o guapuruvu apresenta uma fragilidade intrínseca para ambientes urbanos, tendo facilidade de quebra de galhos e até mesmo de queda. Nesse sentido, a retirada da árvore foi uma medida preventiva e protetiva, que teve como propósito mitigar danos ao muro de divisa e às edificações lindeiras, as quais já apresentavam sinais de avaria. Há poucos meses, vimos, em Porto Alegre, mais de duas mil árvores caídas devido às fortes chuvas, aos ventos e à falta de manejo adequado. Inclusive, recebemos a manifestação de um vizinho, que comentou o fato de o guapuruvu estar muito próximo das casas. A ponderação foi de que, se caísse, poderia atingir quatro ou cinco residências do entorno.
Foi justamente para evitar uma ocorrência desse tipo – e para proteger a comunidade do entorno – que a Plaenge retirou o Guapuruvu cumprindo todos os requisitos legais e vai entregar à Capital um empreendimento repleto de verde, fazendo jus ao nome de Verdant. Serão plantadas no próprio empreendimento quase uma centena de árvores, como ipês-amarelos, ipês-rosas, patas-de-vaca, gabiroba, pitangueira, araçá dentre outras espécies.
Lamentamos por estarmos causando este desconforto no relacionamento com os vizinhos e demais moradores do entorno. A Plaenge, em mais de 50 anos de existência, sempre colocou como prioridade as boas e construtivas relações, baseadas no respeito mútuo e no diálogo, com todos os públicos, desde os clientes, passando pelos fornecedores e parceiros, até os vizinhos dos nossos empreendimentos."