Em 1937, Pablo Picasso concluiu uma de suas obras mais impactantes e famosas: Guernica. Com três metros e meio de largura e quase oito de comprimento, a tela retrata o horror da guerra civil espanhola e se tornou um manifesto pela paz. Foi esta a imagem que veio à cabeça de Rafael Corrêa, multipremiado cartunista gaúcho quando viu a cena do cavalo Caramelo.
No topo de um telhado, em Canoas, sozinho e rodeado de água, o animal viveu uma batalha particular entre a vida e a morte. Salvo, tornou-se símbolo da resistência no Rio Grande do Sul submerso pela enchente.
— Quando vi o Caramelo, lembrei do cavalo que Picasso pintou em Guernica. Ele é central no quadro. Então pensei: vou fazer uma Guernica gaúcha — conta Corrêa.
E assim foi. Nas mãos do artista natural de Rosário do Sul, morador Porto Alegre, a cena do bombardeio inspirou contornos de catástrofe climática - e foi parar nas redes sociais.
Está tudo representado lá: a chuvarada como nunca se viu, as vítimas em desespero, os animais assustados, os resgates. Foram dias tenebrosos, muita gente ainda não conseguiu voltar para casa e a reconstrução do Estado mal começou.
A nossa “guerra” ainda está longe do fim, mas a Guernica gaúcha, tal qual a de Picasso, traz uma mensagem potente nos traços duros: a da resiliência e da capacidade de superação, mais do que nunca, com respeito ao meio ambiente. Precisamos parar de brigar com a natureza.
O artista
Rafael Corrêa é cartunista e autor do personagem de tirinhas Artur, o Arteiro com o qual têm dois livros publicados: Direto pro SOE! (2006) e Piolhos Invaders (2007), ambos pela Razão Bureau Editorial.
Em 2014, ele escreveu, desenhou e editou Criatura, em 2015, o livro Sapatiras e, em 2018, publicou uma coletânea de cartuns e quadrinhos com material dos últimos dez anos de sua carreira, o livro Até Aqui Tudo Bem.
Em 2010, foi diagnosticado com esclerose múltipla e desde julho de 2015 mantém um site contando, em forma de quadrinhos autobiográficos, sua experiência com a doença. Rafael também participa de concursos de cartuns pelo mundo, tendo sido premiado em 50 deles.
Ele está com uma vaquinha virtual aberta para lançar uma novo livro, chamado Toca Ficha. Você pode apoiar, acessando o site www.catarse.me/tocaficha e fazendo qualquer contribuição.
A obra original
Guernica, de Pablo Picasso, ganhou este título devido ao bombardeio ocorrido na cidade basca de mesmo nome, durante a guerra civil espanhola. A tela está em exibição na sala 205 do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madri, na Espanha. Lá, também é possível ver uma série de imagens com o passo a passo da pintura.
Segundo informações do museu, Picasso pintou Guernica a partir de uma encomenda que recebeu do governo para exibição no Pavilhão Espanhol, durante a Exposition Internationale des Arts et Techniques dans la Vie Moderne realizada em Paris, em 1937.
Trata-se de um testemunho e da condenação do massacre realizado por caças alemães em apoio, à época, ao general Francisco Franco (que liderou as forças nacionalistas na derrubada da Segunda República Espanhola durante a guerra civil e posteriormente governou a Espanha de 1939 a 1975 como ditador).
O mural tornou-se, também, um grito contra a violência e o militarismo. Hoje, Guernica é considerada uma das obras de arte mais proeminentes do século 20 e continua a ser um símbolo universal contra a opressão.