Graças à elevação do terreno e ao muro de contenção junto ao Guaíba, a Fundação Iberê, na orla de Porto Alegre, saiu ilesa da catástrofe climática no Rio Grande do Sul. Apesar disso, o diretor-superintendente do museu, Emílio Kalil, pretende levar adiante, junto ao conselho da instituição, um projeto para retirar o acervo do subsolo do prédio. O mais breve possível.
Kalil conta ter recebido, horas antes da inundação na Capital, projeções de pesquisadores da UFRGS alertando para o risco da água atingir o asfalto em frente à fundação.
Com o apoio de funcionários e pessoas próximas, ele comprou sacos de areia que foram instalados às pressas, durante a noite, para tentar proteger os acessos ao estacionamento, no subsolo. Os sacos seguem no local.
Ao mesmo tempo, Gustavo Possamai, responsável pelo acervo, reuniu a equipe para levar as mais de 5 mil obras, provisoriamente, até o quarto andar do edifício, usando o elevador de carga. A operação preventiva foi concluída antes da cheia.
Inaugurado em 2008, com projeto do arquiteto português Álvaro Siza, o prédio tem galerias subterrâneas pluviais equipadas com bombas hidráulicas em boas condições (com manutenção periódica). Ainda assim, Kalil acredita que, se as piores previsões tivessem se confirmado, as bombas não seriam capazes de dar conta da enxurrada, pela força e pelo volume descomunais.
— Teríamos ficado como o Margs (Museu de Arte do RS) e o Farol Santander (ambos acabaram rodeado de água, no Centro Histórico). Tivemos sorte. Fomos salvos. Agora, precisamos fazer como a França fez em 2018, quando o rio Sena alagou Paris. Na ocasião, o governo francês liderou uma ação para retirar todos os acervos das instituições nos subsolos da cidade. Foi uma ação de gestão pública inteligente e correta — diz Kalil.
No caso da fundação, o assunto começou a ser discutido já em 2023, após as cheias de setembro e novembro (naquela época, o Guaíba já chegou às comportas do muro da Avenida Mauá). Agora, Kalil quer acelerar o debate junto ao conselho. Uma das ideias em discussão é construir um prédio anexo, mais alto, para este fim. O desafio é encontrar recursos para isso e viabilizar a obra.
— Depois do que vimos, isso precisa ser prioridade. Não vai ser fácil, mas não vejo alternativa — alerta o superintendente.
Exposição em homenagem ao Margs
A Fundação Iberê pretende dar início, em breve, aos preparativos para uma exposição em homenagem e em solidariedade ao Margs, que completa 70 anos em 2024 e teve o subsolo completamente inundado.
Segundo Gustavo Possamai, a expectativa é de inaugurar a mostra "Trajetórias e Encontros" no dia 27 de julho (data do aniversário do co-irmão), com 90 obras de Iberê Camargo, incluindo telas dele que pertencem ao Margs e que foram salvas do dilúvio.
Será uma oportunidade, também, para discutir e refletir sobre a segurança dos acervos e, mais do que isso, sobre a fragilidade dos nossos tesouros artísticos.