Com o Brasil no centro, o mapa-múndi recém-lançado pelo IBGE virou a “cartografia da discórdia” — e, veja bem, um sucesso de vendas. Disponibilizado na loja online do instituto na última terça-feira (16), o item esgotou em menos de 24 horas. Foram necessários alguns dias até a reposição do estoque.
Como era de se esperar, a novidade — que apela para o que se poderia chamar de “brasilcentrismo” — caiu no lamaçal das redes antissociais e virou motivo de briga entre lulistas e bolsonaristas, sempre eles.
Óbvio que foi uma decisão política e é evidente que acarretaria debate, o que é salutar e inerente a uma democracia. O problema é o nível da discussão.
Para uns, o tal mapa se resume a uma "lacração decolonial”, termo usado pela esquerda para criticar o imperialismo ocidental e suas consequências sobre os oprimidos. Para outros, que costumam se definir como patriotas, não passou de “coisa de comunista”. O Brasil acima de tudo, mas não no “mapa do PT”. Como é que Bolsonaro não pensou nisso antes? Certamente, ele seria celebrado pelos apoiadores e criticado pelos adversários, que hoje enaltecem a mudança.
Já sei que vou levar pedrada de todos os lados por escrever isso e simplificar a discussão dessa forma. Estou exagerando, mas, convenhamos, não dá para negar o quão curioso é ver uma questão cartográfica ganhar tanta repercussão.
Primeiro, porque não é novidade um país se colocar no centro do mundo. A Austrália, por exemplo, faz isso, tanto quanto Rússia e China, como mostrou a ótima reportagem assinada por Emiliano Urbim na edição de fim de semana do jornal O Globo.
Segundo, pelo simples fato de que, hoje, já estamos todos “no centro”. Sabe como? Basta abrir o Google Maps no celular ou o aplicativo Waze. Olha lá: por acaso você não está no centro do mundo? Com a adoção das novas tecnologias de georreferenciamento, até o lugar mais longínquo do planeta é o centro — inclusive meu sítio, no interior de Passo do Sobrado, quem diria. O GPS garantiu isso há muito tempo, e acho que ele não vota no Brasil, graças a Deus.