Que a diáspora de cientistas brasileiros para o Exterior é um problemão, não há dúvida. A proposta do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que prevê aporte de R$ 1 bilhão para incentivar o retorno de “cérebros” ao país, como mostra a reportagem de Isabella Sander em GZH, é um bom começo. Mas será insuficiente enquanto mestres e doutores não tiverem aqui a estrutura e a segurança que têm lá fora.
Falo com conhecimento de causa.
Quando concluí meu doutorado, em 2010, pensei na possibilidade de continuar os estudos em outros pagos. Só não fui, porque sou do tipo que precisa estar perto da família. Acabei deixando a vida acadêmica para trás e apostando no jornalismo (decisão certa).
Mas muitos - muitos mesmo - vão embora do país em busca de oportunidades que não encontram aqui, de garantia de valorização (veja o que a ciência brasileira passou nos últimos anos da gestão Bolsonaro), de equipamentos de ponta e, principalmente, de previsibilidade. Aqui, quase sempre há insegurança sobre a continuidade de projetos.
A tal diáspora é um ótimo “negócio” para os países receptores, que acabam "ganhando de bandeja" pesquisadores de gabarito praticamente “de graça”, sem investir um centavo na formação deles.
Daqui, torço para que o programa de repatriação de talentos dê resultados, apesar de saber, desde já, que será preciso muito mais do que boas bolsas de estudo, vale-alimentação, plano de saúde e verbas para custear equipamentos. E eu espero, de verdade, que a iniciativa não tenha efeitos colaterais indesejados, como desestimular quem decide ficar e atuar aqui (sem ter os mesmos benefícios).