No próximo dia sete de junho, entre idas e vindas, vou bater uma marca pessoal: 25 anos desde que pisei pela primeira vez no prédio da Zero Hora, em Porto Alegre. Eu ainda era estudante de jornalismo e acabava de ser contratada como auxiliar de redação. Detalhe: com o salário de R$269,05 (nunca esqueci) e um baita frio na barriga.
Lembrei disso nesta semana, quando ouvi o Nelson Sirotsky, nosso publisher (não me pergunte o que isso quer dizer, mas, resumindo, é quem manda na “lojinha”) contando o que sentiu quando teve de falar pela primeira vez na redação, aos profissionais que fazem o jornal.
— Eu tive medo. Até minhas pernas tremiam — confidenciou Nelson, no mesmo local, três décadas depois, arrancando gargalhadas da turma, às vésperas dos 60 anos da nossa querida Zero Hora.
Jornalistas, você sabe, são seres questionadores, céticos e críticos por natureza (para não dizer chatos). Agora imagine isso multiplicado por 200, no mesmo lugar, com todos os olhos cravados em quem está falando — nesse caso, o chefe (nem ele escapa do escrutínio).
Nelson cresceu na Zero Hora, levado pelas mãos do pai, Maurício, e do tio, Jayme Sirotsky. É praticamente um de nós. Tem jornalismo nas veias. E, veja bem, ele sentiu medo.
Costumo ouvir, de pessoas que me abordam para conversar, diferentes versões da mesma pergunta:
— Como é trabalhar lá?
No primeiro dia, eu também fiquei apavorada. Primeiro, porque não sabia se daria conta. Segundo, porque essa redação tem história — e prêmios, muitos prêmios, de dar orgulho em qualquer jornal do mundo. Em terceiro lugar, porque ali, diante de mim, estavam os melhores e mais respeitados jornalistas do Rio Grande do Sul.
Quem não ficaria aflito?
Enquanto escrevo este texto, olho ao meu redor. Na minha frente, na mesma mesa, está o Rodrigo Lopes, conversando com o Vitor Netto. Ao meu lado esquerdo, o Ticiano Osório finaliza uma página. Do direito, o PG, a Gisele Loeblein e a Carolina Pastl trabalham. Na outra ponta, a Amanda Souza dedilha no teclado, concentradíssima.
É um privilégio trabalhar ao lado de tanta gente interessante. O mais legal são as conversas. Uma hora, é o Rodrigo falando de geopolítica. Dali a pouco, o tema é o filme que o Ticiano indicou em ZH. Quer saber das perspectivas do La Niña? A Gisele fala (e sempre, de algum jeito, nos faz rir). E o que dizer da Amanda, que entrou ao vivo, em rede nacional, em pleno BBB, lá do Alegrete?
Trabalhar em um lugar assim é estar ao lado de profissionais que têm muito a dizer. E é ouvir histórias saborosas, hilárias e (às vezes) impublicáveis.
Já não há mais o tec-tec contínuo das máquinas de escrever, da época em que a redação era majoritariamente masculina, onde se fumava e — reza a lenda — se bebia muita cachaça. Esse tempo passou.
Hoje, o salão cheio de computadores e telas de TV é um lugar marcado pela diversidade e por um jornalismo adaptado aos novos tempos, no papel, no site, nas redes sociais e no que mais aparecer. Se eu perdi o medo? Sim, perdi. Mas preciso te contar uma coisa: o frio na barriga continua. Como da primeira vez.