Você faria uma viagem de longa distância apenas para poder se fechar no quarto do hotel e dormir horas a fio, sem ser incomodado e sem nenhuma programação além do encontro com Morfeu?
Veja bem, não estou falando de aproveitar as férias para descansar entre um passeio e outro ou de tirar aquela soneca regeneradora depois de caminhar 10 quilômetros pelas ruas de Roma. Não.
A pergunta é: você reservaria um hotel específico com a promessa de dias inteiros de descanso profundo e absoluto, longe dos avisos sonoros do telefone celular, do burburinho incessante da cidade e das noites insones?
É curioso como a sociedade do cansaço — termo cunhado em 2015 pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han — pode criar subterfúgios para atenuar o estado de esgotamento coletivo em que estamos metidos.
Ok, estou exagerando. Não tem como “apagar” por mais de 24 horas seguidas, a menos que você esteja em coma ou sob o efeito de remédios tarja preta. Mas a ideia é mais ou menos esta: viajar para poder, finalmente, gozar o “sono dos justos”. E só.
Já escrevi aqui que sou da turma que não dorme bem — tenho o sugestivo apelido de “foguetinho” na família (não espalha!). Então, quando soube da nova modalidade turística, resolvi pesquisar o tema. Não que eu vá aderir, mas, você sabe, na dúvida, “nunca diga nunca”.
O fato é que existe mercado para isso. Empreendedores do setor não só descobriram o filão como estão investindo pesado para oferecer o “melhor repouso do mundo” para seus clientes.
Aí entram, por exemplo, quartos projetados com vedação sonora total, design “calmante”, climatização na medida, aromas tranquilizantes, edredons com as penas de gansos criados a Toddy, almofadas inteligentes e, é claro, camas de luxo, inclusive com regulação da temperatura corporal para que o usuário não passe frio nem calor.
No quesito “camas de cinco estrelas”, entram, também, opções como as famosas (e carésimas) criações da marca Hästens, fundada no século 19 em Köping, na Suécia. Uma peça pode custar a bagatela de 500 mil euros, segundo reportagem da Forbes. Preço de perder o sono... ops!
Outro ponto interessante: não são só SPAs que estão ampliando as opções relaxantes. Hotéis de bandeiras tradicionais dos Estados Unidos e da Europa já oferecem suítes especialíssimas para quem busca uma “programação restauradora”.
Ou seja: você pode se trancar no quarto, não sair para nada e jamais ser incomodado ou pode incluir no pacote sessões de meditação, ioga e aromaterapia para conseguir fechar os olhos.
Em Londres, no Reino Unido, o hotel The Cadogan, da rede Belmond, chegou criar um serviço de “concièrge do sono” em 2021, incluindo a contratação de um “hipnoterapeuta”, além de menu de travesseiros com “névoa perfumada”, entre outras amenidades. “Com mais de 70% da nação admitindo lutar contra a insônia (...), adormecer nunca foi um problema tão grande”, diz o material de divulgação no site da hospedagem, para justificar as novidades.
Confesso que balancei. Deve ser um sonho — literalmente — poder tirar uns dias de folga para dormir sem pensar no amanhã em lugares como esses e dar adeus às olheiras. O problema é o pesadelo (haha!) que vem depois: o valor da conta!