Só quem frequenta sebos sabe: a cada garimpo, sempre há a chance de encontrar uma surpresa no caminho. Foi o que aconteceu à fotojornalista Camila Hermes, minha colega e amiga aqui em GZH.
Camila é uma inveterada frequentadora das prateleiras de raridades em Porto Alegre — que, pasme, andam atraindo a atenção de um público jovem e antenado, em busca de relíquias e pechinchas pela internet (sim, os sebos também se modernizaram!).
Pois a Camila, esta fotógrafa de mão-cheia, recebeu uma dica da melhor amiga, Karine Adiers, em Bagé: comprar o livro Antologia da Estância da Poesia Crioula, publicado pela editora Sulina em 1970.
A tradicional instituição literária surgiu no 1º Congresso de Poetas Crioulos, em 1957, na Associação Riograndense de Imprensa (ARI), para “elevar e divulgar a literatura regional”. Virou uma espécie de academia nativista de poetas. Existe até hoje.
Camila apaixonou-se pela história e foi atrás da indicação. Ao pesquisar o acervo da plataforma Estante Virtual (estantevirtual.com.br, que reúne milhares de sebos), encontrou a primeira edição da antologia na livraria Traça, loja de usados muito conhecida no bairro Bom Fim, na Capital. Pagou a bagatela de R$ 14,90 e foi retirar a obra pessoalmente.
Só mais tarde, em casa, ela percebeu que havia frases escritas à mão ao longo das páginas. Leu com atenção e se deu conta de que inúmeros poemas estavam autografados pelos próprios autores — incluindo Mario Quintana!
Isso foi em 5 de novembro de 1970, em plena Feira do Livro de Porto Alegre, e as dedicatórias fazem referência a uma certa Maria Antonieta. A leitora em questão deve ter ficado satisfeita, tanto quanto Camila.
Por menos de “15 pilas”, a fotojornalista agora tem uma relíquia na estante da sala. Pode até não ser um exemplar raro nem valer milhões, mas é único. Moral da história: vá a sebos, não importa como.