Idealizador do roteiro Porto Alegre Mal-Assombrada, walking tour digno dos mais famosos passeios do tipo no mundo, André Hernandez recebeu uma notificação extrajudicial de dois dos mais importantes templos católicos da Capital.
No documento, as paróquias Madre de Deus, igreja matriz da cidade, e Nossa Senhora das Doras, primeira basílica porto-alegrense, pedem que o tour criado em 2019 pare de postar imagens das fachadas das duas instituições, por onde passam as caminhadas notívagas promovidas por Hernandez.
Assinado pela advogada Camila Torquato, o texto diz que as "imagens não condizem com os valores e princípios das notificantes (as paróquias)" e que o tour mal-assombrado "está longe de ser verdade".
A notificação diz ainda que a associação das igrejas ao "conteúdo de terror pode levar ao prejuízo de sua imagem perante aos seus membros e mesmo trazer uma impressão errada dos valores ali passados e pregados", com "abalo a sua própria imagem, admiração, respeito e credibilidade".
Com esses argumentos, a advogada pede que qualquer imagem das fachadas seja retirada das redes sociais e demais meios de comunicação utilizados pelo tour em 48 horas. Caso contrário, ela adotará as "medidas judiciais cabíveis".
Hernandez diz ter ficado surpreso ao receber a solicitação e planeja procurar os padres para conversar, explicar o mal-entendido, ressaltar que valoriza as igrejas e para convidá-los a fazer o roteiro. A ação tornou-se um sucesso de público, atraindo inclusive visitantes de fora da Capital e também moradores locais, encantados com a possibilidade de caminhar pela cidade à noite e ouvir sobre suas lendas.
— Passo por vários pontos do Centro Histórico, entre eles as duas igrejas. Paro na rua, com as pessoas, para contar lendas do passado, mas em nenhum momento falo mal de nenhuma delas, pelo contrário. Conto histórias curiosas, como o fato de que havia um cemitério onde hoje fica a catedral, e sempre destaco a beleza da arquitetura desses templos, que são um orgulho para a cidade. Muita gente inclusive volta no dia seguinte só para visitar as igrejas — afirma Hernandez.
O tour não é ofensivo, longe disso. Ele estimula, isso sim, o gosto por caminhar na cidade, por conhecer suas histórias e curiosidades (ainda que folclóricas, como neste caso, é verdade), por desfrutar de sua riqueza arquitetônica, por se sentir parte do todo. E, por que não, por conhecer melhor nossos belos templos, monumentos de fé e de esperança.
A iniciativa "mal-assombrada" (que tem esse nome muito mais para chamar interessados do que qualquer coisa) lembra os roteiros do tipo realizados, por exemplo, junto à famosa Notre Dame, a mais bela igreja de Paris, na França. Lá, guias inclusive levam visitantes para conhecer as célebres catacumbas. Nem por isso, há desrespeito.
Daqui, torço para que os párocos aceitem o convite para conhecer o roteiro e participar de um deles. Quem sabe não mudam de ideia?