Aos 31 anos, um jovem sacerdote de Gravataí, na Região Metropolitana, recebeu do arcebispo Dom Jaime Spengler uma missão do tamanho de sua fé: zelar por um patrimônio de Porto Alegre. E assim foi. Em julho de 2017, Lucas Matheus Mendes assumiria o comando da Igreja Nossa Senhora das Dores, no Centro Histórico, e levaria adiante o sonho de transformar o templo histórico na primeira basílica da Capital gaúcha.
Sorridente, colorado de carteirinha, conectado e ativo nas redes sociais (tem 19,3 mil seguidores no Instagram), padre Lucas, hoje com 36 anos, ainda lembra do diálogo travado com Dom Jaime na ocasião.
— O senhor tem certeza? Eu só tenho quatro anos de sacerdócio — ponderou o presbítero, surpreso com o convite.
— É justamente um pároco assim que eu quero — respondeu o clérigo, decidido.
O religioso aceitou o desafio. A ideia de elevar o status da igreja viria mais tarde, em 2019, durante uma visita à basílica de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo. Ao ver aquele espaço grandioso, ele lembrou de Porto Alegre, da sua igreja e pensou: “Por que não?”
O plano acabou postergado pela pandemia. Diante do avanço do vírus e das regras sanitárias impostas para conter o avanço da covid-19, padre Lucas teve de fechar as portas. Compadecido, viu uma senhora ajoelhar-se e rezar diante das grades cerradas. Assim que as restrições foram reduzidas e que passou a ser possível receber 30 fieis por missa, o pároco decidiu, então, multiplicar as celebrações para oferecer consolo e amparo aos fiéis. Até hoje, a igreja celebra quatro missas aos domingos (veja os detalhes abaixo), algo incomum.
— Eu não queria deixar as pessoas desamparadas espiritualmente. Foi bom. Passamos a receber gente de todos os cantos. Decidi manter, justamente por isso — recorda o presbítero.
Passada a tempestade, Lucas retomou os planos de fazer de seu reduto uma basílica. Foi até Dom Jaime, falou do projeto e recebeu aval para prosseguir no intento. Foram meses de preparativos até a conclusão do documento de 52 páginas que sustentaria o pedido ao Vaticano.
Em junho de 2022, veio a tão esperada resposta de Roma: o Papa Francisco chancelou o novo título, concedido aos templos de maior relevância do mundo pela alta veneração dos fiéis, transcendência histórica e beleza artística e arquitetônica. Desde então, a basílica da Capital - que começou a ser construída em 1807 - vive dias de renovação, atraindo o interesse de um público novo, disposto a conhecer o local e a buscar na fé um porto seguro, em especial jovens famílias.
— Costumo dizer que, para chegar mais longe, não adianta pescar no aquário. É preciso lançar a rede em mar aberto, ir além. É o que estamos fazendo. E esse é o convite de Jesus — prega o sacerdote.
Restauração e café
Sob a liderança do padre Lucas, um projeto de restauração da basílica está em fase de conclusão. A intenção é recuperar as fachadas e a escadaria, marca registrada desse patrimônio da Capital. Está em estudo, também, uma ideia disrutpiva do padre: a criação de uma cafeteria na paróquia, como mais uma forma de atrair interesse e novos fieis.
Mais missas
Desde a pandemia, o padre ampliou o número de missas e, mesmo quando as restrições passaram, a opção foi por manter a medida. Aos domingos, são quatro celebrações: às 9h, às 11h, às 17h e às 19h. A cerimônia das 11h tornou-se uma atração à parte por envolver canto gregoriano.
Formação e ensino
Padre Lucas é formado em Filosofia, tem mestrado em Teologia e está cursando Administração na PUCRS. Além disso, atua em duas escolas da rede de ensino São Francisco, em Porto Alegre.