Em grego, o termo “nostos” remete à ideia de voltar para casa, regressar. “Algos” representa dor, sofrimento. Reza a lenda que “nostalgia”, a junção das duas palavras, foi cunhada por um médico suíço no século 17, ao observar o sentimento de tristeza experimentado por soldados impossibilitados de retornar ao lar. Nostalgia tinha uma conotação negativa.
Não tem mais.
A indústria da saudade e o neuromarketing sabem muito bem disso, em especial desde que uma turma na faixa dos 30 e 40 anos decidiu rebobinar as fitas VHS, ressuscitar o Atari e curtir o chiado da agulha no vinil. Depois de dar um salto na pandemia, a economia da nostalgia virou um filão impressionante.
O fato é que recordações nunca venderam tanto entre jovens adultos com poder de compra. Não estou exagerando: é difícil encontrar um conhecido que não tenha aderido a algum passatempo vintage — a vitrola em forma de maleta, a Polaroid em nova versão, os tênis que faziam sucesso na infância, o corte de cabelo retrô. Está tudo aí de novo, e os especialistas (sempre eles) têm uma explicação para o fenômeno.
A geração que cresceu no Ocidente nos anos de 1980 e 90 viveu o boom do consumo de massa, no momento em que a globalização decolava. A disseminação de padrões culturais já ocorria antes disso, é claro, mas não nessas proporções. As novas tecnologias (ainda que “dinossáuricas” aos olhos de hoje) contribuíram para difundir estereótipos e homogeneizar gostos.
Naquela época, como nunca antes, jovens nos EUA e no Brasil assistiam a séries iguais, vestiam marcas idênticas, consumiam produtos semelhantes e eram seduzidos por uma nova e arrebatadora forma de publicidade e propaganda.
Ao contrário de gerações anteriores, a turma dos 80 e 90 (chamada de Millennials) já podia gravar em fitas tudo que via e ouvia, eternizando lembranças. Hoje, esse grupo gigantesco de pessoas partilha das mesmas referências e ganha o próprio dinheiro. A nostalgia vende, porque é gostoso lembrar.
Aí entram as releituras, os lançamentos limitados de velhos clássicos (para dar a ideia de exclusividade e cobrar mais por isso) e os produtos modernos com rótulos icônicos. Entram, também, o renascimento dos fliperamas e os revivals de filmes e séries inspirados no passado recente.
Sabia que já existe até “body spray” com aroma de Bubbaloo (aquele famoso chiclete) sabor tutti frutti? Pois é.
É curioso notar como todas as reminiscências prazerosas são, de certa forma, também idealizadas. Não há compromisso com a fidelidade histórica. A memória, afinal, é seletiva.
É possível que muito dessa onda tenha a ver com o cansaço generalizado das telas e a influência invasiva dos algoritmos, embora todo mundo adore postar fotos de toca-discos nas redes sociais.
Se tudo isso é apenas mais um modismo, não sei. Como boa Millenial que sou, estou adorando.