Um grupo de pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul (UCS) é o primeiro do Brasil a trabalhar com sustentabilidade na moda, de olho em estratégias de gestão ecológicas para pequenas empresas. A iniciativa é pioneira entre os núcleos de estudo registrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Educação.
Conectado ao que há de mais atual nas discussões sobre a produção de roupas no mundo, o trabalho põe em evidência a importância de questionar o consumo desenfreado do fast fashion.
O termo (que significa literalmente “moda rápida” em inglês) é usado para definir coleções com tempo de vida curto - aquelas peças produzidas em massa, com as tendências do momento, a baixo custo, com mão de obra barata e que acabam sendo praticamente "descartáveis", gerando montanhas de resíduos e grande impacto ambiental.
Para atenuar esse processo, o grupo planeja atuar ao lado das indústrias com uma meta ousada: trazer soluções ecológicas para o setor, um dos mais poluentes do planeta.
Segundo Tatiana Lashuk, coordenadora da iniciativa, a moda sustentável está relacionada a três pilares: 1) ambiental, 2) social e 3) econômico.
A questão ambiental envolve o uso de materiais ecológicos, processos de baixo impacto na natureza e tingimento natural. Já o lado social está ligado às condições de trabalho de quem produz as roupas. Por fim, o aspecto econômico dialoga com o que se considera um “preço justo” de mercado e com a transparência dos custos de produção e de distribuição das peças.
Embora o foco sejam as pequenas empresas, a pesquisadora ressalta que a moda sustentável também pode (e deve) envolver negócios maiores (normalmente relacionados ao fast fashion), mas é preciso ter cuidado ao consumir os produtos para não cair em armadilhas. É importante se informar sobre quem faz a peça a ser comprada, qual a procedência do material e quais as práticas ambientais da organização.
— Hoje, não adianta uma indústria de fast fashion ter um selo de material reciclado, se ela tem práticas sociais duvidosas. O que importa ter uma peça desse tipo, quando a pessoa que produziu o material trabalhou em condições precárias? — questiona a pesquisadora.
Moda e poluição
A indústria têxtil é uma das mais poluentes do mundo. Só no Brasil, mais de 4 milhões de toneladas de roupas e retalhos de tecido são descartados em aterros sanitários anualmente, segundo levantamento realizado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio-Ambiente (Abrema).
Outro problema, segundo Tatiana Lashuk, é o descarte inapropriado dos efluentes (resíduos líquidos utilizados em grande escala pela indústria).
— A gente normalmente fala que "vai jogar no lixo", mas não existe lixo, né? O lixo é a natureza. O lixo vai ser o aterro sanitário.
Para amenizar esses impactos, Tatiana aconselha que os consumidores procurem por peças duráveis e atemporais a fim de diminuir o lixo gerado.
— Então, se tu usar uma peça durante seis meses e ela não consegue mais te satisfazer em termos de durabilidade e de forma, essa peça que tu usou durante seis meses vai demorar 400 anos para se decompor. É um problema bem sério — afirma ela.
Dicas para o consumo sustentável:
- Procure comprar de marcas locais ou marcas de fast fashion que sejam transparentes
- Procure selos e tags que mostrem a procedência dos materiais
- Procure saber se as pessoas que confeccionam as peças são bem remuneradas
- Busque comprar roupas duráveis e atemporais, que não vão sair de moda na próxima estação
*Produção: Isadora Terra