Que saudade do tempo em que a gente pisava na areia, abria a cadeira e o guarda-sol e passava o dia ali, curtindo o som... do mar! Que saudade de ouvir apenas o chuá-chuá das ondas, entrecortado aqui e ali pela brincadeira das crianças, pela buzina do vendedor de picolés ou pelo tec-tec do frescobol. Há alguns anos, ninguém era obrigado a escutar a música alheia.
O sossego acabou.
A prefeitura de Guarujá, no litoral paulista, é que está certa: depois de ampla ação educativa, com base no Código de Posturas Municipal (que proíbe o uso de equipamentos sonoros na faixa de areia), endureceu a fiscalização: desde o início desta semana, passou a apreender as caixas de som ligadas à beira-mar.
Detalhe: na fase educativa, só no período de festas de final de ano, a cidade registrou 4.711 aparelhos do tipo nas suas praias. Se a gente parasse para contar os aparelhos aqui no Rio Grande do Sul, dependendo do lugar, não seria muito diferente. Seria até pior.
Eu sei que é polêmico escrever isso e que muita gente não só gosta, como se diverte com música na areia e não consegue ir à praia sem a sua caixinha (ou caixona, como no caso da foto acima, captada em Imbé pela Camila Hermes). Juro que me esforço, mas não tem jeito.
A questão é que não se trata de ouvir o som de UMA caixa. Você ouve o zum-zum de várias caixas ao mesmo tempo, no mesmo lugar. É mais ou menos assim: de um lado, pagode; de outro, sertanejo; atrás, tecno. Se bobear, ainda dá para escutar música gauchesca, hip hop, axé e funk, tudo junto!
Descobri que em Torres, no Litoral Norte, este é o primeiro veraneio com a nova lei anti-ruído proposta pela mesa diretora da Câmara de Vereadores e aprovada por unanimidade (u-na-ni-mi-da-de) em abril.
A Lei nº 5.351 “proíbe a utilização de equipamentos de amplificação de som” à beira-mar. Quem descumprir a norma está sujeito - em tese - a notificação, apreensão do equipamento e multa de cerca de R$ 400 (dobrada para reincidentes).
O desafio é a fiscalização. Até agora, não vi nada parecido com a ofensiva de Guarujá nas nossas praias, exceto por uma operação em Capão da Canoa, no fim do ano, que retirou da areia três equipamentos com volume acima do permitido.
Na maioria dos casos, ao que parece, vale mesmo aquela antiga máxima: os incomodados que se retirem.