A jornalista Raíssa de Avila colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço
Dos 76 monumentos públicos mantidos pela prefeitura da Capital, apenas quatro homenageiam mulheres. Além da falta de representatividade, chama atenção que duas dessas homenagens são feitas a casais e um dos monumentos não existe mais.
A primeira escultura inaugurada em homenagem a uma mulher é de 1913 e retrata o casal Giuseppe e Anita Garibaldi . Está instalada na praça que leva o sobrenome do casal, no bairro Menino Deus. Já a segunda homenagem aconteceu depois de 61 anos: um busto de bronze da Imperatriz Leopoldina foi instalado no viaduto de mesmo nome, no bairro Farroupilha, em 1974. O monumento foi furtado em 2008. Chegou a ser substituído por uma réplica em resina, depois vandalizada. No local resta uma estrutura em granito que contém detalhes do tributo.
Em 1977, foi instalado no Parque Moinhos de Vento um agradecimento ao casal de filantropos Lydia e Luiz Moschetti. Por fim, em 2009, a estátua de Elis Regina foi colocada na Usina do Gasômetro. Esta permanece em pé e foi o último monumento público inaugurado pela Capital.
A socióloga Vanessa Marx, coordenadora do projeto de extensão da UFRGS Mulheres e Cidades, reflete que a sub-representação feminina é sintoma da falta de espaço nas tomadas de decisões:
– Historicamente, o espaço reservado para mulheres é de caráter privado. A gente tem uma história, mas ela não aparece nos espaços públicos.
A socióloga também avalia que, com poucas homenageadas, a diversidade fica comprometida:
– É importante que tenhamos monumentos a mulheres de diferentes etnias, idades e que tenham contribuído em diferentes áreas, como artes, esportes e ciência – argumenta.
O historiador da arte José Francisco Alves lembra que existem outras estátuas que representam figuras femininas – como a de Oxum, na orla de Ipanema e da índia Obirici, no viaduto de mesmo nome, no bairro Passo D’Areia–, mas entende que a falta de reverência direta reflete a organização da sociedade:
– Os homens dominavam a organização social. Elas não estavam no comando do poder, nem no comando militar. A sociedade mudou e esses personagens também.