Porto Alegre já teve a fama de Capital mais verde do Brasil. Se tudo der certo - e se isso de fato for prioridade na gestão pública -, tem tudo para voltar a ser.
Nesta sexta-feira (24), as obras de revitalização do Viveiro Municipal, iniciadas em 2021, serão finalmente entregues pela prefeitura. A promessa é de voltar a produzir mudas nativas e autóctones para ruas, praças, parques, canteiros e áreas de preservação da cidade - incluindo as margens de rios e arroios (medida fundamental para evitar o assoreamento e ampliar a proteção às cheias).
Fundado em 1977, um ano depois da criação da primeira Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Brasil, em 1976, o local foi perdendo protagonismo com o passar do tempo. Sucessivos governos deixaram de investir no espaço, que, em 2019, chegou a ficar meses sem energia elétrica. A cobertura das estufas se despedaçou, e o local virou uma espécie de “cemitério” de plantas. Só não pereceu pela persistência dos servidores.
Agora, o clima é de alívio, segundo o chefe da equipe, engenheiro agrônomo Rogério Schmidt. Estive lá na última segunda-feira (20) para ver de perto a renovação. E gostei do que vi.
As estufas de germinação e de rustificação (que preparam as mudas para vida na urbe) foram reformadas e receberam irrigação automatizada. O antigo banco de sementes - importantíssimo para a preservação da nossa biodiversidade - está novo em folha.
Por enquanto, a maior parte das áreas segue vazia, porque, há cerca de cinco anos, não se planta mais nada ali - os funcionários apenas mantinham vivas as mudas já desenvolvidas, em especial as espécies raras e ameaçadas de extinção, como araçá-pirangas e sobragis. Até o fim de 2023, com o apoio de uma empresa especializada, a atividade deve ser retomada.
Diretor de áreas verdes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), Alex Souza projeta a produção de pelo menos 2 mil árvores, 57 mil forrações (como grama e hera), 6 mil herbáceas e 1,2 mil arbustos ao ano. A ideia, também, é receber escolas para visitação e projetos de educação ambiental.
Em tempos de emergência climática, com eventos extremos cada vez mais comuns, é tudo o que se deseja. Cidades mais verdes são uma das chaves para enfrentar o aquecimento global suas consequências.
— Bonito mesmo vai ser quando todas essas estufas estiverem lotadas. Aí, sim — projeta Schmidt.
E não só isso: bonito mesmo será quando todas essas plantas estiverem crescendo ao nosso redor.
De onde saiu o dinheiro
O valor total investido foi de R$ 4,3 milhões (parte na reforma, parte na contratação de segurança). As obras foram viabilizadas por uma contrapartida ao município (uma obrigação, legal, exigida por lei) da Melnick, como compensação pela construção de um empreendimento na Avenida Nilo Peçanha. A decisão da prefeitura de direcionar a verba para o viveiro (poderia ter sido aplicada em qualquer outra área) merece aplausos.
Tree Cities of the World
Existem diferentes rankings que medem o nível de arborização das cidades no mundo. Hoje, Porto Alegre - que já teve a fama de "mais verde" do Brasil - não figura no topo de nenhum dos principais levantamentos.
O programa "Tree Cities of The World", por exemplo, reconheceu 21 municípios brasileiros em 2022 pela excelência na manutenção e gestão de suas áreas verdes - e a capital gaúcha não está entre eles. Esse estudo é coordenado pela Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO/ONU) e pela Fundação Arbor Day, dos Estados Unidos.