Em que tipo de lugar queremos viver? Até quando vamos aceitar longos deslocamentos no trânsito e centros urbanos que crescem a fórceps, mal planejados e hostis à vida em comunidade? Perguntas do tipo levaram o urbanista Carlos Moreno, colombiano radicado em Paris, a cunhar um novo conceito: as cidades de 15 minutos, que já inspiram experimentos ao redor do mundo.
Moreno é diretor da Cátedra Empreendedorismo, Território e Inovação da Escola de Negócios da Universidade de Sorbonne, uma das mais prestigiadas do mundo. Em palestras e entrevistas, ele costuma dizer algo mais ou menos assim:
- Aceitamos por tempo demais o inaceitável.
Dependendo de onde você vive, já entendeu: congestionamentos, poluição, barulho, espaços mal aproveitados, excludentes e desiguais, áreas verdes solapadas pelo concreto, caminhabilidade comprometida, carros, carros e mais carros.
De certa forma, nos tornamos “vítimas” das selvas de pedra que nós mesmos criamos.
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O conceito de cidade de 15 minutos parece simples. A ideia é a seguinte: tudo o que a gente precisa deve estar a esse tempo de percurso a pé ou de bicicleta da nossa casa. Isso inclui trabalho, lazer, compras, educação, alimentação, esportes e assistência médica.
A proximidade seria uma forma de reduzir a superdependência dos automóveis, de ter o ar mais limpo, ampliar as zonas arborizadas, as ciclovias e os calçadões, de oportunizar cidades mais habitáveis, enfim. Cidades policêntricas. Isso significa que todos os bairros passariam, em tese, a ser centrais.
Utopia? Também tenho dúvidas, mas já tem gente testando a teoria.
Paris é uma das pioneiras. Lá, a prefeita Anne Hidalgo começou transformando escolas em centros distritais (com diferentes usos além do convencional) e dando outros fins às vagas de estacionamento.
Barcelona vem criando as “superilles”. São grandes quarteirões com tráfego e velocidade restritos e ruas com novas funcionalidades (têm até hortas comunitárias).
Aí você se pergunta (e eu também): ok, muito bonito, mas como fazer isso dar certo e ser bom para todo mundo?
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A resposta não é fácil, porque não tem fórmula pronta. Moreno diz que os gestores públicos precisam ter coragem para propor mudanças. É vital, também, que empresas e organizações sejam incluídas no plano, especialmente o mercado imobiliário, que pode e deve ser parceiro na transformação.
Redesenhar cidades envolve mudar leis, superar resistências pelo convencimento (como fechar ruas), descentralizar serviços, auxiliar comerciantes na transição e até enfrentar teorias da conspiração - como tudo nesse mundo, as cidades de 15 minutos também se tornaram alvo delas.
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Talvez, o segredo seja mesmo começar por uma quadra ou por algumas poucas vias. Por que não? Talvez, seja o caso de fazer o teste em municípios do Interior com alta qualidade de vida, onde fica mais fácil fazer adaptações. Talvez.
Se você já está em um lugar assim, pode se considerar um(a) ferlizardo(a). Você já mora em uma cidade do futuro no presente.