Um dos mais badalados festivais de música do momento, o Turá, que trará a Porto Alegre artistas do calibre de Caetano Veloso, Pitty e Alceu Valença nos dias 18 e 19 de novembro, acaba de anunciar a mudança do local do evento. Inicialmente, os shows ocorreriam no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (o Harmonia), mas os organizadores optaram por transferir a estrutura para o Anfiteatro Pôr do Sol - que não recebe eventos desde 2019.
A alteração não chega a surpreender.
Em nota oficial, o Turá informou que a escolha do novo local vai ao encontro da essência do projeto, que "busca abraçar a diversidade e a sustentabilidade por meio da música, da gastronomia, das pessoas e da localização em meio à natureza". Segundo a organização, a opção pelo anfiteatro foi uma sugestão do Instituto Curicaca, não por acaso, uma ONG que atua na conservação da biodiversidade e na promoção do ecodesenvolvimento.
Mesmo que, oficialmente, nada disso tenha sido mencionado, a possibilidade de mudança era cogitada desde julho. Foi quando veio à tona a polêmica envolvendo o corte de 103 árvores no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, por conta do projeto do Parque da Orla, desenvolvido pela concessionária GAM3 Park.
A empresa, é bom lembrar, tinha autorização para a medida (que envolvia 432 unidades), e parte das plantas retiradas (equivalentes a menos de 10% do total de árvores do parque) estava em estado fitossanitário ruim, com duas delas mortas. Para compensar as remoções, a GAM3 se comprometeu a plantar 500 novas mudas nativas no local (cinco vezes mais, portanto), o que começou em setembro, no Acampamento Farroupilha.
Ainda assim, os cortes pegaram mal entre ambientalistas e ONGs. Houve protestos e um apelo público aos artistas envolvidos no festival - muitos deles, como Caetano, sabidamente ligados à causa ecológica.
No fim daquele mês, foi divulgada uma carta aberta - assinada por mais de 30 entidades, entre elas a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) e o InGá (Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais) - pedindo aos cantores e músicos que não participassem da festa no parque. O documento foi enviado a todos e, ao que parece, a pressão surtiu efeito.
A mudança anunciada foi muito bem alinhavada pelos organizadores com os parceiros e com a prefeitura, que aprovou a operação necessária para a realização do festival e inclusive saudou a retomada do Anfiteatro Pôr do Sol. Essa retomada, aliás, é uma boa notícia para a população, já que o anfiteatro será reaberto após quatro anos em desuso.
No fim das contas, fica a lição: o meio ambiente importa, sim, e qualquer medida envolvendo o tema, ainda que dentro da lei, merece todo o cuidado do mundo.