Mal crônico e ainda sem cura, a doença de Alzheimer será tema de um evento gratuito e aberto ao público no Hospital Moinhos de Vento, nesta quarta-feira (2), em Porto Alegre, com pesquisadores que vêm contribuindo para melhorar o diagnóstico da enfermidade. Entre eles, está um cientista gaúcho que lidera pesquisas de ponta na área, na Universidade McGill, em Montreal, no Canadá.
Diretor do Centro de Pesquisa para Estudos em Envelhecimento e professor de Neurologia da instituição, Pedro Rosa Neto vai falar, entre outros tópicos, sobre o uso de testes sanguíneos para a detecção precoce da doença.
Nascido na capital gaúcha, ele se formou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), fez residência médica no Hospital São Lucas da PUCRS e mestrado na UFRGS. Concluiu o doutorado na Dinamarca e o pós-doutorado em Montreal. É, hoje, uma das referências no tema.
Além de Rosa Neto, o evento contará com a participação do pesquisador Eduardo Zimmer, professor da Faculdade de Farmácia da UFRGS, e da médica Sheila Martins, chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento. Chamado de Grand Round, o encontro será das 12h15min às 13h15min no auditório da Casa de Saúde (Rua Tiradentes, 333).
A seguir, confira os principais trechos da conversa que tive com Neto nesta terça-feira (1º), por telefone.
Quão perto estamos de diagnosticar o Alzheimer com um simples exame de sangue?
Estamos muito perto. Já existem modalidades diagnósticas mais sofisticadas, mas há uma grande evolução em relação aos testes sanguíneos neste momento. Ainda não temos nenhum aprovado por autoridades de saúde internacionais, mas em breve teremos.
Isso é parte dos seus estudos?
Sim. Trabalho com a validação desses testes, que são produzidos pelo meu laboratório e por outros laboratórios. Testamos os novos biomarcadores em relação a outros já estabelecidos.
Quando o senhor diz que estamos perto, isso significa quantos anos?
Acredito que dentro de três anos testes sanguíneos estarão comercialmente disponíveis.
É uma ótima notícia, não?
É uma ótima notícia, particularmente porque agora temos um tratamento. Antes, esses testes não impactavam muito, mas isso mudou, porque desde o início do ano temos dois medicamentos capazes de alterar o curso da doença. Se as pessoas começam a usar quando ainda não têm sintomas, elas podem se beneficiar muito.
Já dá para falar em uma possível cura do Alzheimer?
O Alzheimer pode ser a primeira doença degenerativa com esperança de cura, mas, neste momento, ainda isso ainda não foi comprovado nos testes clínicos. Estamos apenas na segunda medicação que retira do cérebro as proteínas causadoras da doença. As próximas gerações de medicamentos certamente virão com menos efeitos colaterais e vamos poder administrá-las cada vez mais cedo. Hoje ainda não podemos prescrevê-las para todos. No futuro, acredito que a doença será como a hipertensão, que a gente trata com o objetivo de prevenir crises cardíacas ou isquemias. Sou muito otimista.
O acesso a testes e tratamentos ainda é caro e para poucos. Isso vai mudar?
Com certeza. É o plano. A doença de Alzheimer é uma das poucas doenças não infecciosas que a Organização Mundial da Saúde considera uma prioridade, e um dos objetivos é tornar os testes e as medicações acessíveis a todos, em especial em países de baixa renda, não só pelo sub-diagnóstico, mas também porque essas pessoas estão mais expostas a fatores ambientais e de saúde que levam à progressão de sintomas. Se a pessoa tem hipertensão e diabetes não tratadas, isso potencializa a deterioração das funções cerebrais.