Saneamento básico costuma ser um assunto secundário, tanto para gestores públicos (“obra enterrada não dá voto”) quanto para muitos cidadãos, que acionam a descarga no banheiro e não querem nem saber o que acontece depois. Triste equívoco.
Um levantamento do Instituto Trata Brasil em parceria com a Ex Ante Consultoria, ao qual a coluna teve acesso em primeira mão, dá uma ideia do quanto podemos ganhar com a universalização desses serviços.
Nos 317 municípios gaúchos atendidos pela Corsan, cuja operação foi assumida em julho pela Aegea, os benefícios são estimados em R$ 40,7 bilhões até o fim de 2033 - prazo definido, em 2020, no marco legal do setor.
Metade do valor projetado é de benefícios diretos e a outra metade, decorrente da redução de perdas associadas à falta de água e esgoto tratados (como internações hospitalares e diminuição da produtividade no trabalho).
Com base no cruzamento de dados do Sistema Nacional de Informações do Saneamento, do IBGE e do DataSUS, entre outras fontes, o Trata Brasil concluiu que, no Rio Grande do Sul, cada R$ 1 investido na área tem potencial para se reverter em R$ 4,80.
Além da geração de empregos com as obras em si (estações de tratamento, dutos, ligações, etc), os investimentos previstos tendem a melhorar as condições gerais de saúde da população. Menos gente doente significa, grosso modo, mais gente trabalhando, mais produtividade, mais crianças na escola e por aí vai.
— Fazemos esse estudo em diferentes regiões e Estados justamente para mostrar que o saneamento é uma força-motriz do desenvolvimento, porque garante igualdade de condições e melhores oportunidades a todos — diz Luana Pretto, à frente do Instituto Trata Brasil.
Entre 2005 e 2021, o investimento médio no setor, no Rio Grande do Sul, foi de R$ 40,30 por ano, por habitante, bem abaixo da média nacional, de R$ 82. Hoje, 13,1% dos gaúchos ainda não têm acesso ao sistema de água e 65,9% vivem sem a coleta de seus dejetos. Todos os dias, o equivalente a 443 piscinas olímpicas de esgoto são despejadas no meio ambiente.
A nova controladora da Corsan terá trabalho. E será cobrada por isso.