Se a situação do Brasil não é boa em coleta e tratamento de esgoto, a do Rio Grande do Sul consegue ser pior, mostra estudo inédito do Instituto Trata Brasil, em parceria com a Ex Ante Consultoria.
O levantamento aponta que, se no Brasil a falta de coleta de dejetos afeta 45% dos habitantes, no Estado atinge 66,1%. Em dados absolutos, significa que 7,5 milhões de gaúchos moram em residências sem rede de saneamento. E a população sem tratamento é em média 51,8% no Brasil, mas chega a 74,2%, ou cerca de 8,5 milhões de gaúchos.
Para dar uma ideia do volume do déficit de tratamento no Estado, o estudo traz uma comparação: seriam 443 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento despejadas na natureza todos os dias. Mas se isso choca, outro dado também impressiona: 1,5 milhão de gaúchos ainda moram em residências sem acesso à água tratada, que significa déficit de 13,4% da população, o que também fica acima da média da Região Sul (8,9%), embora abaixo da média nacional (17%).
Com exceção de uma pequena parte de moradias situadas na zona rural ou em áreas urbanas isoladas, onde esgoto é usualmente descartado sem coleta e tratamento – em fossas sépticas, por exemplo –, a maior parte da água suja e dos dejetos humanos retorna ao ambiente in natura, sem qualquer tratamento, o que afeta a saúde das pessoas e o equilíbrio ecológico.
Para o levantamento, foram usados dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis) de 2021, os mais recentes disponíveis e de outras pesquisas do governo federal (veja detalhes no final do texto). Por esses números, menos de um terço (32,6%) da população do Estado mora em casas com coleta de esgoto. Do total de esgoto gerado, apenas 25,3% do volume de água consumida recebe tratamento antes de retornar ao ambiente.
O estudo faz ainda uma projeção de custos e benefícios caso a universalização do serviço de água (para 99% das população) e coleta e tratamento de esgoto (para 90%) seja atingido até 2033. A data já está em discussão, com grande probabilidade que o cronograma se estenda, mas pelos benefícios sociais e ambientais, o país precisa perseguir essa meta.
Os custos sociais somariam R$ 17 bilhões, enquanto os benefício alcançariam R$ 51,3 bilhões, dos quais R$ 23,8 bilhões em renda gerada por investimentos, atividades de saneamento e impostos sobre consumo e produção recolhidos. O saldo positivo ficaria ao redor de R$ 34,3 bilhões.
O quadro do déficit
Percentual da população sem acesso a água tratada, coleta e tratamento de esgoto*
Área | Sem água | Sem coleta | Sem tratamento
Brasil | 17% | 45% | 51,8%
R. Sul | 8,9% | 51,7% | 56,8%
RS | 13,4% | 66,1% | 74,2%
Detalhes da metodologia: Além dos dados do Snis, o estudo considerou levantamentos do IBGE, como Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad, de 2019), Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, de 2019), Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic, de 2020), Pesquisa Anual dos Serviços (PAS, de 2020) e as Contas Nacionais do Brasil de 2020. Informações sobre número e custos de internações por doenças de veiculação hídrica e doenças pagos pelo Sistema Único de Saúde vêm do Datasus, e as sobre o desempenho no Enem são do Inep, do Ministério da Educação.