Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, o Palácio Piratini, em Porto Alegre, segue recebendo cuidados especiais. Na última terça-feira (29), foi concluída a restauração dos 23 murais pintados pelo italiano Aldo Locatelli nas paredes e no teto dos salões Alberto Pasqualini e Negrinho do Pastoreio - os mais belos do prédio.
Locatelli chegou ao Sul em 1948, para pintar a Catedral de Pelotas. Acabou ficando em solo gaúcho e foi contratado pelo governo estadual entre 1951 e 1952 para ornamentar os salões palacianos.
Entre suas obras, estão 18 painéis sobre a lenda do Negrinho do Pastoreio e cinco murais que retratam, entre outros temas, a formação etnográfica do Rio Grande do Sul e a fundação de Rio Grande - tudo em tamanho gigante (uma das peças chega a medir 5,5 metros de largura e 4,5 metros de altura). O trabalho foi concluído pelo artista em 1955 e, desde então, é um dos mais ricos conjuntos pictóricos do Estado.
— O restauro dessas obras é uma satisfação imensa para nós, porque elas representam o acervo artístico mais importante do palácio e estavam realmente ameaçadas, precisando de intervenção — diz Mateus Gomes, diretor de Conservação e Memória do Piratini.
Com investimento de R$ 338,5 mil dos cofres estaduais, o restauro durou cerca de oito meses. Agora, ainda falta concluir a pintura dos forros dos salões, o que deve ocorrer até o início de dezembro, com a inauguração oficial das melhorias. A partir daí, a intenção é aprimorar as visitas guiadas realizadas no local.
— Pretendemos oferecer visitas direcionadas aos públicos infantil, de Ensino Fundamental, Ensino Médio e acadêmico, além do público em geral. A ideia é preparar um material pedagógico sobre os murais para que as pessoas possam conhecer mais detalhes a respeito deles, não só da história, mas também de alguns aspectos que hoje consideramos problemáticos. O indígena, por exemplo, foi retratado em um corpo europeu, e as mulheres aparecerem sempre olhando para baixo. É uma oportunidade para contextualizar a obra e também a época em que foi feita — explica Gomes.
Um grupo de professores está preparando esse material, que será disponibilizado também no site do Palácio Piratini.
Um pouco da história do Palácio*
- Sede do governo do Estado do RS, o Palácio Piratini teve as obras iniciadas em 1896, por ordem do então presidente da província Júlio de Castilhos
- O novo prédio substituiria o antigo Palácio de Barro, que tinha esse nome por ter sido construído com paredes de taipa e que, segundo Castilhos, estava "praticamente inabitável"
- A obra começou a partir do projeto do engenheiro Affonso Hebert, mas recebeu críticas e foi paralisada em 1901
- Em 1909, o presidente da província Carlos Barbosa Gonçalves decidiu promover um concurso em Paris para escolher um novo projeto. O vencedor foi Auguste Ray, mas a ideia nunca foi executada
- Naquele mesmo ano, chegou a Porto Alegre o arquiteto francês Maurice Gras, que trouxe consigo uma nova proposta para a sede do governo e acabou contratado
- O projeto de Gras diferenciava-se dos demais, pois separava em dois blocos a função representativa, de governo, e a residência, prevendo entre eles um pátio interno
- Muitos associam o projeto de Gras ao Petit Trianon, de Luís XVI, na França
Materiais importados e novas mudanças
- Entre 1910 e 1913, a obra ganhou ritmo, com o uso de materiais importados. Vieram da França itens como pedra calcária, parte do cimento, os lustres e apliques da ala governamental. A Inglaterra forneceu a outra parte do cimento
- Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), houve dificuldades de importação de materiais, e os trabalhos foram paralisados
- O presidente da província Borges de Medeiros dispensou o arquiteto Maurice Gras e retomou a obra em regime de empreitada. A partir daí, escultores e ornamentistas radicados no Estado passaram a trabalhar na construção
Primeiro ocupante
- Em 17 de maio de 1921, Borges e auxiliares próximos passaram a atuar no Palácio. Não houve inauguração oficial, pois ainda havia muito por fazer no segundo piso e na ala residencial
Sequência aos trabalhos
- Em 1922, foram retomados os trabalhos na ala residencial e finalizado o ajardinamento entre as duas edificações
- O primeiro presidente provincial a residir no local, junto da família, foi Getúlio Vargas, em 1928
- Em 1945, após a Segunda Guerra, foram reiniciadas as obras de decoração interna dos salões do segundo andar da ala governamental
- Em 1951, o pintor italiano Aldo Locatelli foi contratado para a execução de murais inspirados na história rio-grandense
- O grande salão de recepções recebeu o nome de Negrinho do Pastoreio, após Locatelli recriar a lenda nas paredes e no teto
O nome Piratini
- O Palácio Piratini recebeu este nome em 1955, por decreto do governador Ildo Meneghetti, em homenagem à primeira capital da República Rio-grandense
Tombamento histórico
- Em 1986, o prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (lphae) e, em 2000, integrando o sítio histórico da praça da Matriz, a edificação e seus bens passaram a ter a proteção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
* Fonte: texto Palácio Piratini, produzido pela historiógrafa Liana Bach Martins, da Assessoria de Arquitetura da Casa Civil do Estado