A Arquidiocese de Porto Alegre anunciou, nesta quarta-feira (9), a decisão de não promover, no próximo dia 12 de outubro, a tradicional procissão de motos - que por quase 60 anos foi realizada em honra a Nossa Senhora Aparecida na Capital.
Em nota oficial, o Clero explicou os motivos da medida. E eles são conhecidos de todos, há anos: atos de desrespeito, que colocam em risco a vida de participantes, com manobras radicais, imprudência ao volante, barulho excessivo e todos os tipos de infrações de trânsito.
O comunicado (leia abaixo a íntegra), assinado pelo arcebispo metropolitano Dom Jaime Spengler e pelo padre Vanderlei Mengue Bock, assistente eclesiástico da procissão, é claro: "Vida e fé, sim, vandalismo, não!"
Todos têm direito à religião e a exercer sua fé, seja ela qual for, mas a Arquidiocese está certa quando declara que a "a vida é o maior dom" e que, "infelizmente, nos últimos 20 anos, iniciou-se um processo de 'vandalização' da procissão".
Uma coisa é agradecer e homenagear a santa, outra, bem diferente, é infringir leis e causar acidentes de trânsito absolutamente evitáveis.
A decisão tende a provocar polêmica e ser alvo de crítica entre os fiéis motorizados - em especial, entre aqueles que agem de forma adequada e que também repudiam os baderneiros. Seja como for, a Arquidiocese age com responsabilidade e faz o que é certo.
Leia a decisão da Arquidiocese na íntegra:
Vida e fé sim, vandalismo não!
A vida é o maior dom de Deus. Durante quase 60 anos, são realizadas, em Porto Alegre, as procissões dos Motociclistas em honra a Nossa Senhora Aparecida, com o objetivo de valorizar, exaltar e agradecer o dom da vida e da fé.
Infelizmente, nos últimos 20 anos, iniciou-se um processo de “vandalização” da procissão. Tentou-se de várias maneiras, reorganizar o evento, mudar certas práticas com o apoio e colaboração da EPTC, Sindimotos, Brigada Militar, Detran e Imprensa; tentativas que não surtiram efeito.
Conforme as autoridades de Segurança Pública, na semana que antecede a procissão dos Motociclistas, ocorre o maior número de roubos de motos na cidade, e os veículos são abandonados após o evento. Sem contar os participantes que retiram as placas ou cobrem as mesmas, não respeitando as normas de trânsito, e até mesmo há informações de agressões aos Agentes da EPTC. O que era para ser um dia de manifestação de fé, tornou-se um dia de baderna!
Na edição de 2022, ocorreu a morte de um jovem participante que se dirigia para o Evento. Fato triste e doloroso! A procissão foi criada com a finalidade de expressar a fé em Deus, agradecer e suplicar bençãos, e não momento de desagregação, desrespeito, bagunça e violência.
Diante do acima exposto, a Arquidiocese de Porto Alegre não organizará a Procissão de Motos de 2023. Faz-se necessário repensar todo o evento: local, credenciamento, concentração, trajeto, dispersão. Salientamos que não estamos encerrando a procissão de motos, mas trabalhando na sua reestruturação, para resgatar a sua originalidade: “ser expressão de fé e devoção”
Solicitamos a compressão dos Devotos de Nossa Senhora, pois não podemos compactuar com a realidade de transgressões e infrações que tem ocorrido nos últimos anos durante o evento. Que o Deus da vida abençoe a todos, de modo especial, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, os motociclistas.
Assinam a nota o arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, e o Pe. Vanderlei Mengue Bock, assistente eclesiástico da Procissão.