Conhecido pelo jeitão bem-humorado (que inclusive lhe rendeu um pedido inusitado do Papa Francisco), Dom Jaime Spengler foi eleito, nesta segunda-feira (24), em Aparecida do Norte (SP), presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Até então vice-presidente da entidade, o arcebispo de Porto Alegre vai liderar a instituição que congrega os bispos da Igreja Católica no país até 2027.
Não é pouco.
Mais do que representar o episcopado brasileiro (são 326 bispos ativos e 157 eméritos), Dom Jaime terá uma missão difícil à frente. Os desafios incluem desde a defesa da entidade em meio ao “tiroteio” nas redes (a CNBB chegou a ser chamada de “comunista” pelos aloprados de plantão) até a tarefa de lidar com inquietudes de todos os tipos.
— Experimentamos uma série de crises: crise econômica, política, social, de humanismo, de ética, uma crise eclesial e de fé — declarou ele, após o resultado.
Se há alguém apto a lidar com as dificuldades, é Dom Jaime, reconhecido pela postura firme, mas ponderada e afeita ao diálogo. Ele deixou isso claro ao aceitar a nova função. Questionado sobre a decisão, respondeu assim:
— Com humildade, simplicidade, temor e tremor, mas sobretudo na fé, em espírito de comunhão e colaboração, sim!
Conversei com o padre na última Semana Santa, na Cúria, e perguntei o que pensava sobre a possibilidade de se tornar o novo chefe dos bispos. Brincalhão, o religioso nascido em Gaspar (SC), pertinho de Blumenau, cobriu os olhos com as palmas das mãos e fez de conta que não ouviu. Desde o início, ele despontava como um dos francos favoritos na disputa, pela atuação de destaque na entidade desde 2011.
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Em sua última visita ao Vaticano, em fevereiro deste ano, Dom Jaime já estava saindo da sala de Francisco quando o Papa tocou no seu braço e disse:
— Aconteça o que acontecer, jamais perca o bom-humor.
Agora, o conselho vale mais do que nunca.
Quarta vez
Esta será a quarta vez que um bispo exercendo a função no Rio Grande do Sul ocupará a presidência da CNBB. Segundo a Arquidiocese de Porto Alegre, o primeiro foi Dom Aloísio Lorscheider, eleito em 1971, quando era bispo da Diocese de Santo Ângelo. Depois dele, vieram Dom Ivo Lorscheiter, Dom Jayme Henrique Chemello e o cardeal Dom Vicente Scherer, que ocupou o cargo de forma interna.