É preciso olhar com atenção para os números divulgados nesta semana sobre a queda na produção científica mundial - em especial, no Brasil - em 2022. Com atenção e preocupação.
Foi a primeira vez, desde 1996, quando começou a série histórica, que o país registrou diminuição geral no volume de publicações acadêmicas, segundo o tradicional levantamento da Elsevier, empresa editorial com sede em Amsterdã, nos Países Baixos, fundada em 1880. O estudo teve a parceria da agência Bori de comunicação científica e merece crédito.
Não foi só o Brasil, que fique claro. Ao menos 23 países tiveram redução, mas, ao que tudo indica, a ciência brasileira sofreu um tombo maior, comparável ao da Ucrânia, que vive uma guerra desde 2022.
Isso significa - com raras exceções, segundo o estudo - que perdemos ritmo em uma área na qual vínhamos nos destacando, e isso não é papo de intelectual, não. Publicar menos artigos científicos nos coloca atrás na corrida por soluções em áreas estratégicas, como saúde, meio ambiente, agricultura e mobilidade urbana. Não existe desenvolvimento consistente sem produção científica robusta, ainda que alguns insistam em desacreditar a ciência.
Por trás da queda, há dois principais fatores. Em primeiro lugar, o efeito-rebote da pandemia, que foi sentido de uma forma geral. Embora a crise sanitária tenha começado em 2020, fechando centros de pesquisa e paralisando trabalhos em andamento, o impacto não ficou restrito ao auge da covid-19, porque projetos do tipo implicam continuidade (há um tempo de maturação até a publicação).
A outra causa, ao que parece, tem relação com os cortes orçamentários de recursos públicos destinados à área nos últimos anos, como no caso de universidades e institutos federais. É a “reação adversa” à política de desvalorização da ciência que preponderou no Brasil entre 2019 e 2022 e da escalada do negacionismo na sociedade brasileira.
É possível que os reflexos desses anos sombrios, que combinaram a eclosão do vírus mortal e o descrédito de nossos cientistas, ainda sejam sentidos por muito tempo. Espero que eu esteja errada.