Uma das conclusões mais chamativas do Censo Demográfico 2022 do IBGE, divulgado nesta quarta-feira (28), é a perda de população em grandes cidades brasileiras. Porto Alegre é uma delas: a capital gaúcha registrou a redução de 76 mil moradores em 12 anos. Não surpreende.
Embora seja, de fato, um movimento inédito registrado no Brasil, como destacou o diretor de Geociências do IBGE, Claudio Stenner, não é de hoje que se percebe algo além das estatísticas: a busca por melhor qualidade de vida, o que, muitas vezes, só se encontra nos municípios menores. Em geral, no Interior, onde o custo de vida também é menor.
Os pesquisadores ainda não têm uma explicação definitiva para o fenômeno. Para Stenner, a diminuição deve-se, em parte, ao esgotamento territorial dos conglomerados urbanos, o que, consequentemente, leva à expansão da população para áreas vizinhas. Faz sentido, mas tenho a impressão de que não é só isso.
Desde a pandemia, muita coisa mudou, inclusive o ideal de vida de muitos de nós. Isso inclui o lugar onde se vive e as expectativas em relação a ele. A chegada do vírus levou uma parcela da população a repensar padrões, inclusive de moradia, e a migrar em busca de mais contato com a natureza, menos poluição, mais tranquilidade, mais segurança. Vi amigos se mudarem porque desejavam ter um pátio e - quem sabe - até uma horta ao ar livre. Estar junto ao mar ou às montanhas virou fetiche, para quem pode, é claro.
Para muitos, a debandada da "cidade grande" nada mais é um retorno às origens.
Há, por certo, os casos em que não existe possibilidade de escolha, quando o desemprego e o empobrecimento batem à porta. Durante anos, homens e mulheres abandonaram o Interior para tentar a vida nas capitais. Talvez uma parte desse contingente, nesta última década, tenha decidido simplesmente voltar para casa.