Saiu no Le Monde - o principal jornal francês - no início de março. Repercutiu na imprensa internacional, da alemã Deutsche Welle ao canal de notícias Euronews, e agora está reverberando no Brasil. Resumindo, é o seguinte: a França discute a possibilidade de proibir pais e mães de postarem fotos dos filhos nas redes sociais. Polêmica pouca é bobagem.
O hábito de compartilhar imagens de crianças na internet ganhou até nome. Chama-se “sharenting", uma junção de dois termos em inglês: “share” (dividir, compartilhar) e “parenting” (paternidade).
Na prática, é a superexposição de bebês desde o momento em que eles vêm ao mundo, literalmente. É um fenômeno relativamente novo, já que, há alguns anos, o máximo que as famílias tinham para mostrar eram aqueles álbuns físicos, passados de mão em mão para as visitas. Quem não lembra disso?
Com a popularização das redes sociais, o ato se tornou virtual. A facilidade para tirar fotos e gravar vídeos potencializou a coisa toda. Segundo um levantamento da empresa de segurança digital AVG, com base em dados de 10 países, a cada quatro bebês com menos de 2 anos, três já têm fotos online. Estima-se que, aos 13 anos, uma criança tenha, em média, 1,3 mil imagens circulando na web.
Ao Le Monde, o deputado Bruno Studer, autor do controverso projeto, disse que os responsáveis, muitas vezes, não se dão conta dos riscos implícitos. Afinal, como ter certeza de que uma imagem fofinha não acabe nas mãos de pedófilos? Outro ponto: nem sempre, os pais pensam no que os filhos poderão sentir, no futuro, ao perceber que cada momento de sua vida está escancarado nas redes sociais. Será que eles vão gostar disso?
Não tenho filhos, mas estou certa de que nenhuma mãe expõe seu bebê com más intenções. Partilhar a maternidade é motivo de orgulho. E, cá entre nós, é impossível voltar no tempo e simplesmente fingir que as novas formas de comunicação não existem. Estar nas redes é, também, dividir as alegrias.
O problema, como tudo na vida, é o excesso. A saída, talvez, seja moderar o nível de exposição: fechar ou direcionar as publicações apenas a amigos próximos (que devem ser selecionados com cuidado), configurar o aplicativo para restringir "repostagens", mediar comentários e, quem sabe, até mesmo reduzir o volume de publicações. Nunca é demais lembrar: ainda que existam meio de limitar os acessos, é quase impossível controlar a repercussão de um post.