Quem vê Sandro Marimon flambando legumes ou finalizando um autêntico tagliatelle al sugo, não imagina que as mãos delicadas do cozinheiro, um dia, defenderam pênaltis, cabeçadas e toda sorte de chutes a gol. Por 18 anos, Marimon disputou campeonatos estaduais no Brasil e jogou em quase duas dezenas de clubes, até descobrir a nova paixão.
O goleiro trocou as luvas pelas panelas, virou chef e passou a comandar a cozinha de um dos mais sofisticados restaurantes de comida italiana na Capital gaúcha.
Embora os gramados tenham ficado no passado, Marimon não esquece do que aprendeu nos tempos da bola - lições que leva consigo até hoje. Bajeense de nascimento, ele ensaiou as primeiras defesas na categoria de base do Grêmio Esportivo de Bagé. Passou pelo Esportivo de Bento Gonçalves, pelo Grêmio (na era de Jardel e Paulo Nunes) e pelo Caxias, onde se profissionalizou.
— Depois, virei cigano — brinca o chef.
Como arqueiro, Marimon rodou o país de norte a sul, do Democrata de Minas Gerais ao São José de Porto Alegre; da Portuguesa (SP) ao Luverdense (MT); do Atlético de Alagoinhas (BA) ao Brasil de Pelotas - que deixou cinco dias antes do trágico acidente envolvendo o ônibus do grupo em janeiro de 2009.
No ano seguinte, o goleiro foi campeão catarinense pelo Brusque. Saiu de férias rumo ao Espírito Santo e nunca mais voltou.
Em Vila Velha, por influência de um chef da cidade, Marimon conheceu o curso de gastronomia da universidade local e foi fisgado.
Aos 32 anos, cansado da vida de andarilho do futebol, decidiu iniciar uma nova carreira e estudar culinária. Conseguiu um emprego como auxiliar de cozinha e não parou mais. No braço direito, para marcar a nova fase, tatuou uma cebola, uma cenoura, um salsão e um alho-poró, ingredientes do famoso "mirepoix", popularizado na França como a base de todo e qualquer fundo (caldo) clássico.
Especialista em técnicas italianas e francesas, pães e pizzas artesanais, o ex-jogador voltou ao Rio Grande do Sul para trabalhar em um dos maiores grupos gastronômicos do Brasil. Hoje, na Cantina do Press, no Shopping Iguatemi, ele gere uma equipe de 26 pessoas, que chega a servir mais de mil pratos por dia. Mais do que cozinheiro, tornou-se um líder fora do campo.
— No vestiário, é muito comum os goleiros desempenharem um papel de liderança. É o que sigo fazendo na cozinha, com uma diferença fundamental em relação ao que vivi no futebol: acredito muito na humanização das relações. Não se consegue nada no grito — ensina o chef.