Um projeto transformador - que sobreviveu a mudanças de governo, superou crises e virou política de Estado, algo raro no Brasil - vem provocando uma pequena revolução em áreas de vulnerabilidade social em Porto Alegre, Alvorada e Viamão. Os Centros da Juventude tornaram-se fábricas de esperança para jovens de 15 a 24 anos que vivem nas periferias, abrindo portas e formando cidadãos.
Na Capital, eles estão nos bairros Cruzeiro, Lomba do Pinheiro, Restinga e Rubem Berta, estigmatizados pela violência. Talvez você nunca tenha ouvido falar desses centros, e é justamente por isso que quero tratar deles.
São espaços públicos criados pelo governo estadual com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O empréstimo foi viabilizado em 2014, no governo de Tarso Genro (PT), que deu início ao projeto. Tarso não se reelegeu, mas a ideia avançou, ganhando prioridade na gestão de José Ivo Sartori (MDB) e tendo continuidade na administração de Eduardo Leite (PSDB).
Sob o guarda-chuva da Secretaria Estadual de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, os centros integram o Programa de Oportunidades e Direitos (POD). Funcionam em locais de referência para as comunidades, com o apoio de entidades parceiras, selecionadas via edital.
E agora vem a melhor parte: os locais, que operam como lugares de acolhimento, já beneficiaram mais de 26 mil estudantes, de diferentes formas - desde cursos de formação até bolsas para jovens com espírito de liderança, chamados de “multiplicadores”.
Não se trata apenas de capacitação profissional, mas de mostrar aos envolvidos que há um caminho a trilhar longe do crime e das drogas e que todos têm o direito de se desenvolver e ter acesso à educação. Há cursos variados, atividades culturais e orientação psicossocial.
Desde 2022, após o fim dos recursos do BID, o programa é bancado com dinheiro do Tesouro do Estado - nosso dinheiro. Um golaço. Toda a sociedade ganha com isso.
O exemplo de Hellen, futura advogada
Basta circular pelos Centros da Juventude (CJs) para encontrar exemplos bem-sucedidos. É o caso de Hellen Fonseca, 19 anos, do CJ Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, onde ela ingressou em 2019.
Hellen tornou-se bolsista e jovem multiplicadora, atraindo interessados e disseminando as oportunidades para quem, como ela, sempre buscou incentivo.
Com o apoio dos pais, a menina fez cursos, buscou orientação, ouviu os educadores, acreditou em si mesma. Sabe qual foi o resultado? Ela acaba de ser aprovada no vestibular de Direito da UFRGS, um dos cursos mais concorridos do Estado.
— Os educadores do Centro me ajudaram muito, em todos os sentidos, desde juntar a documentação para a inscrição até a montagem dos cronogramas de estudo. O trabalho é incrível. Agora, sinto que estou levando todo mundo comigo e quero um dia poder retribuir tudo isso — diz a futura advogada, consciente do papel que tem na sociedade.
Números do projeto
- 26.221 jovens já atendidos
- 15.720 participaram de capacitação profissional
- 12.707 receberam bolsas de R$ 598 mensais
- 5.969 receberam reforço escolar
- 3.263 foram encaminhados para vagas de trabalho
O que é o POD
O Programa de Oportunidades e Direitos é executado pela Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos e, a partir de práticas de prevenção, atende a uma população de 15 a 24 anos que vive em territórios de vulnerabilidade social e com altos índices de violência.
O atendimento ocorre nos Centros da Juventude (CJs). Até o momento, são seis unidades. Eles estão localizados nos bairros porto-alegrenses Cruzeiro, Lomba do Pinheiro, Restinga e Rubem Berta, e nos municípios de Alvorada e Viamão, na Região Metropolitana.
Nos CJs, o público tem acesso a atividades educacionais como cursos profissionalizantes e de idiomas, além de reforço escolar. Os jovens também são encaminhados ao mercado de trabalho sempre que possível, participam de eventos culturais e esportivos e recebem acompanhamento psicossocial (para eles e suas famílias).
Os centros são pensados para ser uma “segunda casa” de quem os frequenta, promovendo acolhimento e autonomia para a juventude.