É preciso reconhecer: a união de forças estabelecida entre dois adversários na arena política - o presidente Lula e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas - em apoio às vítimas da chuva descomunal que devastou o litoral paulista é simbólica e exemplar. Mais do que isso, é um alívio, um desafogo.
Há quem veja mera “politicagem” ou mesmo oportunismo na aproximação entre o líder petista e o ex-ministro de Jair Bolsonaro.
Pode até ser, mas o gesto dos dois - incluindo o prefeito Felipe Augusto, que é do PSDB e governa São Sebastião, o epicentro da tragédia - retoma algo que andava em baixa na política nacional: a capacidade de deixar a rivalidade em segundo plano em nome de algo maior. Nesse caso, estamos falando de vidas.
Ao cancelar a folga de Carnaval e ir pessoalmente à região (outra coisa que andava em falta em casos como esse), Lula baixou o tom e disse que “o bem comum do povo é muito mais importante do que qualquer divergência”. Tarcísio não só concordou como agradeceu, em público, a presença do rival.
Com essa atitude, o governador de São Paulo agiu como estadista, tanto quanto Lula, ainda que a postura tenha incomodado aliados. Muitos não se conformam com a guinada e veem na estratégia de Tarcísio uma tentativa infame de se descolar da imagem do antigo chefe para, quem sabem, herdar de vez seu espólio. Tarcísio mesmo já disse que nunca foi “bolsonarista raiz”.
Seja como for, e de que lado for, não dá para negar: o Brasil precisa, sim, de mais cooperação, de mais diálogo, de mais equilíbrio.